Grupo de Bolsonaro na Câmara se complica com CPMI das Fake News

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Publicado Quarta, 12 de Fevereiro de 2020 às 12:44, por: CdB

O ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa, contratado por apoiadores do hoje mandatário neofascista, cometeu crime ao atacar uma jornalista.

 
Por Redação - de Brasília
  A mera presença do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no plenário da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que investiga a onda de notícias falsas que varreu a campanha presidencial de 2018 e ajudou na eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), foi suficiente para deixar mais uma impressão digital da família no escândalo. Os crimes praticados, nas redes sociais, transbordam a ponto de não suportar sequer o apoio do líder do PSL no Senado, o senador Major Olímpio (SP).
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Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu em defesa do ex-funcionário da agência que distribui notícias falsas
O parlamentar paulista disse, nesta quarta-feira, que o ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa, contratado por apoiadores do hoje mandatário neofascista, cometeu crime ao atacar a repórter da Folha Patrícia Campos Mello e ao mentir para o congressistas. Segundo o senador, a CPMI deveria ter decretado a prisão dele de imediato, “em flagrante”. — Em uma comissão parlamentar de inquérito, e estando sob juramento, qualquer cidadão tem que dizer a verdade, sob pena de cometer crime. Acusações sobre a honra, a conduta profissional e moral da jornalista, ao meu ver, caracterizam crime — afirmou Olímpio.

Grupos criminosos

Entre os acusados de formar grupos criminosos que disseminam milhões de disparos, nas redes sociais, com notícias falsas para os eleitores, estão os deputados federais Filipe Barros (PSL-PR) e Coronel Tadeu (PSL-SP). Eles aparecem como administradores de grupos de WhatsApp ainda ativos, por meio dos quais são compartilhados ataques contra integrantes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Barros, ainda por cima, integra a CPMI, que o deveria investigar. O deputado também é um dos coordenadores da equipe de coleta de assinaturas e apoios para a criação do novo partido de Jair Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil. Tadeu, por sua vez, participou da comissão até o final do ano passado. Trata-se do parlamentar que quebrou a placa com um desenho do chargista Latuff sobre violência policial, em uma exposição na Câmara, ano passado. Eles também integram a "tropa de choque" do presidente Bolsonaro, na Câmara. Além disso, Barros é um dos coordenadores da equipe de coleta de assinaturas e apoios para a criação de um novo partido político, o Aliança para o Brasil, capitaneado pelo presidente. Alvos constantes destes grupos são o próprio presidente da Casa onde atuam os parlamentares, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do STF, ministro Dias Toffoli. Ambos negaram, aos jornalistas, ser os criadores destes grupos e disseram não ter controle se o colocaram como administradores.

Ataques

Ainda na internet, não bastasse a disseminação de notícias falsas sobre os opositores, divulgam teorias da conspiração sobre o surto de coronavírus surgido, recentemente, na China; mensagens religiosas, de autoajuda e conteúdo homofóbico. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e líderes do PT; além de ex-apoiadores de Bolsonaro, como a deputada federal Joice Hasselman (PSLSP), são alvos frequentes de ataques. Ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows, Hans River do Rio Nascimento insultou na noite passada, a jornalista Patrícia Campos Mello, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), ao prestar depoimento na Comissão. Nascimento afirmou que a jornalista “queria sair” com ele, sugerindo um ato sexual em troca de informações para uma reportagem. Para agravar, ainda mais, a cumplicidade nos crimes investigados, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse não duvidar que a repórter “possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”. Após sua participação na CPMI, o filho do presidente ainda publicou a insinuação, no Twitter.

Assustador

Em nota divulgada logo após o incidente, a FSP condenou os ataques à jornalista. “A Folha repudia as mentiras e os insultos direcionados à jornalista Patrícia Campos Mello na chamada CPMI das Fake News. O jornal reagirá publicando documentos que mais uma vez comprovam a correção das reportagens sobre o uso ilegal de disparos de redes sociais durante a campanha de 2018. Causam estupefação, ainda, o Congresso Nacional servir de palco ao baixo nível e as insinuações ultrajantes do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)”, afirmou o jornal. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou as “alegações difamatórias” de Bolsonaro. “É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia”, interveio a Abraji.

Eleições

Ainda em 2018, a repórter produziu uma série de reportagens sobre a ação de empresas que faziam disparos em massa de mensagens por WhatsApp para influenciar o voto nas eleições presidenciais. A Yacows era uma delas. No início da sessão da CPMI, Nascimento também provocou polêmica ao afirmar que o deputado Rui Falcão (PT-SP) o chamou de “favelado” quando o cumprimentou. Falcão disse que se tratava de uma “mentira”, reagindo à acusação ao lado de seu correligionário, o senador Humberto Costa (PT-PE). Hans disse mais tarde que teria sido chamado de “periférico”. Para a jornalista Renata Mielli, secretária-geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, as acusações falsas da testemunha, endossadas por um parlamentar, revelam “o grau de perversidade das pessoas que assaltaram o poder no Brasil, que recorrem para atacar e minar a credibilidade das informações que circulam e incomodam esses poderosos”. — É uma grave ofensa, é um atentado à liberdade de imprensa e de expressão esse tipo de recurso que a família Bolsonaro e o que estão ao redor desse movimento político que Bolsonaro lidera de caráter autoritário, fascista, conservador, machista, preconceituoso, esse é o traço distintivo desse tipo de política que eles fazem. Como eles não conseguem dialogar com a sociedade a partir dos fatos, de se defender a partir de circunstâncias reais, eles partem para a tática do ataque — conclui Renata, também coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
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