Indicação de Moraes ao STF seria troca de favores, dizem analistas

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Publicado Terça, 07 de Fevereiro de 2017 às 13:03, por: CdB

“Basta de intermediários e faz de conta. Temer indicou Alexandre de Moraes para vaga de juiz no STF. Se aprovado no Senado, onde o governo Temer tem ampla maioria, Alexandre será revisor em certos casos da Lava Jato”, afirma Bob Fernandes

 

Por Redação - de São Paulo

 

A indicação do advogado Alexandre Moraes, que até agora ocupava o Ministério da Justiça, para a vaga deixada após a morte do ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF), recebeu nesta terça-feira, apenas algumas horas depois do anúncio, uma saraivada de denúncias quanto ao motivo de sua escolha para a mais alta Corte de Justiça do país. Figura polêmica, Moraes já foi acusado de advogar para a organização criminosa PCC e defender a tortura; além de penas severas para quem fuma maconha.

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Moraes e Temer: troca de segredos e favores no passado teriam favorecido colaborador do governo

Em sua coluna diária em um canal de TV paulista, o jornalista Bob Fernandes mostra o quanto a indicação de Moraes irá interferir com os objetivos da Lava Jato no STF. Na sua análise do processo, aponta ainda o casuísmo da investigação que atingiu e tolerou ataques a Lula; além de poupar os aliados de Temer. Bob Fernandes também revela o episódio que determinou a indicação de Moraes para Ministro da Justiça.

Leia, adiante, a coluna de Bob Fernandes:

“Basta de intermediários e faz de conta. Temer indicou Alexandre de Moraes para vaga de juiz no Supremo Tribunal. Se aprovado no Senado, onde o governo Temer tem ampla maioria, Alexandre será revisor em certos casos da Lava Jato. Alexandre é ministro da Justiça de Temer. Temer foi citado 43 vezes em delação da Odebrecht na Lava Jato.

Temer acaba de tornar ministro o secretário Moreira Franco. O "Angorá", citado 34 vezes na mesma delação da Odebrecht. Ministro tem foro privilegiado, só pode ser julgado pelo Supremo. Nesse caso, não pelo juiz Moro.

Moro que ordenou gravar conversa da presidente Dilma com Lula quando Dilma nomeou Lula ministro. Gravação vazada para impedir que Lula obtivesse foro privilegiado ao ser efetivado como ministro.

Novas delações

Gravação ilegal pela captação, e divulgação pelo próprio Moro, de conversa da presidente Dilma, que não era investigada. Alexandre de Moraes foi Secretário de Segurança Pública do governo Alckmin. O governador de São Paulo, segundo vazamentos, seria o "Santo" em planilhas da Odebrecht.

Novas delações de empreiteiras apontam para propinas pagas em governos do PSDB em São Paulo e Minas. Alexandre é o ministro da Justiça. Especula-se que o PMDB herdaria o ministério da Justiça. Que chefia a Polícia Federal.

A Polícia Federal investiga e prende na Lava Jato. Lava Jato a ser "estancada", segundo célebre pregação do líder do governo Temer, Romero Juca. O "Caju" nas planilhas.

Se Supremo, Senado, Temer e Alexandre levassem em conta a opinião do próprio Alexandre ele não poderia ser ministro do Supremo. Há 17 anos, para se tornar "doutor" pela USP, Alexandre defendeu uma tese...

‘Gratidão política’

Segundo um item dessa tese, quem servisse a um presidente da República "em cargo de confiança" não poderia ser indicado para o Supremo pelo mesmo presidente...

...Isso para se evitar "demonstração de gratidão política".

A propósito de gratidões...No dia 11 de Maio passado a polícia de São Paulo prendeu Silvonei José de Jesus Souza.

Silvonei invadiu o celular de Marcela Temer, casada com o presidente. Roubou fotos, áudios, e cobrava para não divulgá-los.

Um dia depois da prisão, 12 de Maio, o secretário de segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes, foi convidado por Temer para ser ministro da Justiça.

Em 6 meses Silvonei foi julgado e condenado. Ficará preso por 5 anos em "regime fechado".

Assista ao vídeo:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=POz_cqcfHro]

Nudes de Marcela

Para o editor do site de notícias Diário do Centro do Mundo, Kiko Nogueira, provém a hipótese levantada por Bob Fernandes quanto ao conteúdo do celular de Marcela Temer.

“Quando ainda era secretário de Segurança de São Paulo, mandando a PM bater em estudantes à vontade, Moraes cuidou do caso da clonagem do celular de Marcela. Era abril de 2016. O hacker Silvonei de Souza pedia R$ 300 mil para não vazar fotos íntimas, emails e áudios”.

Na época, Moraes prendeu o hacker, em pouco mais de um mês. Nenhum detalhe foi vazado para a mídia, o que lhe teria valido a gratidão de Temer.

“É uma simplificação, claro”, acrescenta Nogueira.

“Moraes é muito mais do que isso, no mau sentido. Está alinhado com a curriola do golpe, é do PSDB e fará o possível e o impossível para impedir a Lava Jato de chegar a seus chapas, tendo ao lado o gigante Gilmar Mendes. Mas o serviço prestado para o big boss não deve ser subestimado. Temer, um ancião do século XIX, com uma mulher troféu, ficou eternamente grato”, pontua.

Extorsão

“Sem voto, sem carisma, desprezado pela população, tudo que ele não precisava era que os nudes de Marcela viralizassem — se é que eram só nudes. No processo, que ganhou classificação de ‘prioritário’, os nomes das ‘vítimas protegidas’ foram substituídos por codinomes. Quando o hacker mencionava Marcela, o escrivão registrava ‘Mike’. O suspeito era registrado como ‘Tim’. Karlo, o irmão da primeira-dama, virou ‘Kilo’. Silvonei foi condenado a 5 anos de prisão por estelionato e extorsão”, registra Nogueira.

Ainda segundo o editor do DCM, “Moraes não encaminhou solução para um único problema de segurança pública como secretário ou ministro. O pináculo de sua obra foi prender meia dúzia de pobres coitados às vésperas da Olimpíada sob a alegação de que planejavam um ato terrorista. Enquanto presos degolavam uns aos outros nas rebeliões nas cadeias, ele garantia que a situação estava sob controle. Um desastre absoluto em todos os sentidos”.

Dom Corleone

“Mas resolveu um pepino que colocava em risco a honra do chefão. O paralelo com a máfia é inevitável e você já assistiu em diversos filmes: a namorada do líder tem a proteção e a segurança de um capanga competente. O sujeito, em geral um tipo alto, com a cara bexiguenta, sempre de casaco longo de abas levantadas, a trata bem e a livra de encrencas. O patrão é maluco por ela”, observa.

E questiona: “Eram retratos da intimidade dela? Do casal? (Deus é pai) Os emails tratavam somente de assuntos particulares? Jamais saberemos. Alexandre de Moraes, no entanto, sabe o que havia no celular. E Temer sabe que ele sabe”.

“Há coisas que precisam ser feitas, que as fazemos e nunca falamos nelas. Não tentemos justificá-las’, diz Dom Corleone. ‘Não podem ser justificadas. Apenas as fazemos. Depois as esquecemos”, conclui.

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