Janot se despede da Procuradoria enquanto o seu legado desmorona

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Publicado Quarta, 06 de Setembro de 2017 às 10:30, por: CdB

A delação do Grupo JBS, obra-prima da gestão de Rodrigo Janot, é destroçada após áudio que ele próprio divulgou.

 

Por Redação - de Brasília

 

Procurador-Geral da República (PGR) por pouco mais de uma semana, Rodrigo Janot se despede do cargo em meio ao desmanche daquela que seria a obra-prima de sua gestão. A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que serviu de base para a denúncia contra o presidente de facto, Michel Temer, encontra-se sob feroz ataque de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Janot se atrapalhou e ve seu legado se transformar em pó, a dez dias de se aposentar

Um dos fatos mais graves encontra-se na colaboração de um dos homens de maior confiança de Janot, o procurador Marcelo Miller, com os criminosos ligados ao Grupo JBS. Na manhã desta quarta-feira, o Correio do Brasil teve acesso a documentos que apontem ligações entre Miller e os empresários suspeitos de corromper parlamentares, magistrados e até o presidente de facto, Michel Temer. Miller teria sido convidado a integrar a diretoria da JBS, quando ainda atuava no MP. Ele negociava um acordo de delação com a empresa de Joesley Batista. 

Segundo relatório vazado a partir do áudio de Joesley Batista, apreendido pela PGR, nesta manhã, a JBS teria convidado o ex-procurador Marcello Miller para ocupar o cargo de diretor Global de Compliance (departamento anticorrupção) do grupo empresarial, em fevereiro deste ano. O setor estava em fase de estruturação com objetivo de conter os danos a partir da descobertas dos ilícitos praticados. Acontece que Miller, na época, ainda integrava os quadros do Ministério Público Federal (MPF). Miller deixou o posto em 5 de abril último.

Envolvimento

As citações a Miller por Joesley Batista e o diretor de relações institucionais da empresa, Ricardo Saud, aparecem na conversa gravada Eles conversam sobre a importância de seguir as orientações de Miller, nas negociações para o acordo de delação premiada na Lava Jato.

Procurado pela reportagem do CdB, Miller negou todas as acusações e disse que apresentará sua defesa no momento adequado. Mas o simples fato de ter sido citado, nesta condição, abriu espaço para a crítica contundente de um dos ministros mais polêmicos do STF, Gilmar Mendes. Ele acusou Janot de se envolver “diretamente” no acordo de delação premiada de executivos da J&F a partir de seu então “braço direito, Marcelo Miller”.

— A grande novidade, que não era novidade, mas que é uma confirmação, é que a Procuradoria atuou muito mal neste episódio e que ela se envolveu diretamente, que ela tinha objetivos a partir de um braço direito do procurador-geral — disse Gilmar Mendes em entrevista concedida em Paris, nesta manhã, onde cumpre agenda oficial como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Delação

O comentário do ministro, desafeto de Janot, ocorre após a divulgação de gravação da conversa dos executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud, na qual sugerem que Miller advogava interesses do grupo dentro do Ministério Público Federal (MPF) antes de deixar a instituição.

Janot nega conhecer a atuação dupla do seu ex-auxiliar. Ele pediu investigação do caso e ameaça cancelar os benefícios da delação. Esta, que garantiu imunidade penal aos executivos da companhia.

Críticos de Janot, contudo, defendem cancelar a colaboração dos executivos da J&F, com a consequente anulação de investigações conduzidas a partir das acusações feitas por eles.

Denúncias

Para Gilmar Mendes, a atuação de Miller era um “segredo da carochinha” em Brasília. Todos sabiam do envolvimento dele no episódio, somente Janot “escamoteava” e “escondia”.

O ministro do STF ainda ironizou o procurador-geral. Segundo ele, Janot pensava em fazer um gran finale da sua gestão à frente do MPF, oferecendo “grandes denúncias”. Inclusive uma última, contra o presidente (de facto) Michel Temer.

— Mas eu acho que ele conseguiu coroar dignamente o encerramento da sua gestão com esse episódio Joesley. Ele fez jus a tudo o que ele plantou durante os anos. Isso vai ser a marca que nós vamos guardar dele. O procurador-geral da delação Joesley, desse contrato com criminosos desta fita — criticou.

Inesquecíveis

O magistrado disse ainda que Janot tentou envolver o STF de forma “realmente lamentável” no episódio da gravação dos executivos da J&F. Na segunda-feira, em entrevista, o procurador-geral disse que o áudio continha envolvimento de ministros da Corte. Para o ministro, isso mostraria realmente “sua pouca qualidade institucional”. E que a divulgação do áudio mostra exatamente que não se pode “brincar com as instituições”.

— Tenho impressão que, se fizermos um juízo do legado do lulo-petismo, podemos pensar em duas marcas importantes. A indicação de Dilma Rousseff para presidente da República E a indicação de Rodrigo Janot. Elas são inesquecíveis — concluiu.

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