O autismo de Dilma e do PT

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Publicado Segunda, 18 de Abril de 2016 às 13:27, por: CdB
Por Rui Martins, de Genebra:
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A troca absurda: propor renúncia de Dilma, quando ela já está praticamente destituída
O autista além de sofrer problemas de comunicação vive fora da realidade e isso nos leva a pensar se a presidente Dilma e o PT, isso engloba o site 247 e os blogueiros, não seriam todos autistas. Por que essa impressão? Ela vem da fragorosa derrota de Dilma na votação para a admissibilidade do pedido de destituição de Dilma pela Câmara Federal. Por que Dilma e o PT aceitaram ser massacrados publicamente diante de milhões de brasileiros, num ato político transformado em espetáculo de televisão, cada voto comemorado como um gol, a ponto da comentarista do Canal France24 comparar a crise e o povo nas ruas como uma final de campeonato? A manchete de um jornal baiano fala mesmo em “goleada” sofrida por Dilma, comparando-a com os inesquecíveis 7 a 1 da Copa do Mundo. Os mentores da linha política petista acreditam haver um lucro político ao se expor Dilma à execração e ao flagelo públicos? Eu pessoalmente lamento pela presidente, pois não acredito haver virtudes ou vantagens no masoquismo. A história nos relata como políticos preferem renunciar a serem escaldados vivos diante do povo, preferindo ou a morte ou o exílio ou o ostracismo na antiga Grécia. Entre nós, Getúlio, Jânio, Goulart, De Gaulle na França, Helmut Kohl na Alemanha, Nixon nos EUA e talvez Cameron, na Inglaterra, se os ingleses votarem pela saída da União Européia. Ou seria atitude obrigatória depois de se adotar a mirabolante tática de se dizer haver um golpe contra a presidente, embora tenham sido acionados todos os mecanismos institucionais permitidos pela Constituição nessa votação da autorização para se iniciar o processo de destituição da presidente? Se estivesse havendo golpe, o ministro Cardozo não poderia ter tentado obter liminares do STF para sustar a votação pela Câmara. Não, não houve golpe domingo e nem está havendo golpe, ocorreu isso sim, uma perda de apoio político, primeiro junto ao povo e, a seguir, dentro do Legislativo, a ponto de se poder propor e se obter (!) o normalmente impossível: dois terços de votos da Câmara para se derrubar uma presidente. Por isso, minha desconfiança de Dilma, do PT e do seu blog guião 247, sofrerem de autismo, já avançado e agravado por não serem mais crianças. Ora, não se precisa ser sociólogo e nem ter mestrado na USP ou na Sorbonne para se saber que os fenômenos políticos e sociais não surgem da noite para o dia, eles se engendram, crescem e explodem, como podem se desfazer. Não se pode também engarrafar ou conter ou congelar comportamentos sociais. São movimentos vivos que podem dar a impressão de uma certa volubilidade – o povo coroa mas pode destronar seus reis. O descontentamento popular tinha se tornado visível em junho de 2013, em simples protestos contra aumentos das passagens de transportes públicos. Como hoje se grita em mau português “não vai ter golpe”, também se escandia “não vai ter Copa”. Mas o governo de Dilma e o PT pareciam não ter detetor de fumaça. Prometeu-se uma reforma política e depois foi esquecida e ficou por isso mesmo. Como se o povo e os jovens em protesto fossem um bando de idiotas fáceis de manipular. Quando chegou a campanha presidencial, prometeu-se o que não se poderia dar e, pior ainda, decidiu-se aplicar após as eleições aquilo que tinha sido criticado nos candidatos concorrentes. Novamente a idéia de se poder enganar impunemente o povo, esquecendo-se da imprensa e da oposição. Diante das investigações e denúncias de corrupção, ficou decidido se negar tudo. Houve até livros publicados provando por a + b não ter havido nem mensalão e nem petrolão. Quando ficou difícil continuar com a farsa, surgiu o argumento de que se os outros fizeram por que nós não podemos? Por que a Justiça se tornou seletiva? Nós podemos porque nós agimos em favor do povo. Num país onde a esperteza é inata e faz parte da herança genética, até podia ser uma boa justificativa, não fosse o excesso e o estrago feitos. E agora leio a opção delirante constante do site petista 247: Dilma renunciaria na metade do seu mandato, segundo uma proposta a ser feita pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que permitiria nova eleição presidencial com as eleições municipais. Mas com que peso político uma presidente seriamente derrotada na Câmara e  que será praticamente destituída mesmo pelos senadores irá oferecer sua renúncia em troca de nova eleição presidencial? Ao mesmo tempo, enquanto os petistas e seus blogs focam seus ataques de corrupção no presidente da Câmara, Eduardo Cunha, apresentam um versão soft e aceitável do presidente do Senado, Renan Calheiros, quando são ambos farinha do mesmo saco. Autistas, pelo jeito não aprenderam nada nestes dias, continuam falando em golpe e se dizendo de esquerda, mesmo depois de terem loteado e oferecido cargos e funções em troca de votos contra a destituição. Eu prefiro achar que não canhotos, tal a maneira canhestra como agem, como se defendem e se enterram, comprometendo a imagem da verdadeira esquerda. Rui Martins, jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e rádios RFI e Deutsche Welle. Editor do Direto da Redação.
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