Petrobras: um sorriso em meio a socos e chutes

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Publicado Domingo, 01 de Março de 2015 às 12:00, por: CdB
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Colunista conta o sorriso de satisfação de um vendedor ambulante ao ver o Lula passar
“Dilma assassina os outros”, gritava alguém no meio da confusão. Pouco tempo antes, naquele fim de tarde de terça-feira, 24 de fevereiro de 2015, um cartaz de “Fora Dilma” era levado por um grupo de cerca de 20 pessoas bem para o meio da militância do PT, que estava concentrada em frente ao histórico prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto Alegre, centro do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, haveria ato em defesa da Petrobras, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Como sustentar que aquele grupo de pessoas com cartaz oposicionista em punho estivesse apenas querendo ter garantido o seu “direito de ir e vir”, que estivesse apenas “querendo paz”? Foram lá para provocar. Muitos deles gritavam que a “militância do PT é paga”. E a eles quem paga? Quem fez o cartaz? Foi pago? Quem bancou frigideiras azuis para serem batidas ao som de gritos de “luladrão”? Quem? A pancadaria correu solta dos dois lados e o cenário que se via à noite era a ABI cercada pelo batalhão de choque da PM. No dia seguinte, nossa grande imprensa o que fez? Deu destaque a um militante do PT dando um pontapé em um “popular”. O tal “popular” estava no pequeno grupo que chegou lá gritando que “Dilma assassina as pessoas”. Ora, Dilma assassina quem? Vocês fariam o quê se alguém chegasse a vosso meio gritando despautérios contra pessoas que vocês defendem? Foi lamentável o que meus olhos viram e meus ouvidos ouviram naquele dia. Cenas muito ilustrativas de como os brasileiros, de um modo geral, tratam a política. Como se fosse briga de torcida. É de se entender porque o Congresso é essa lástima. Mas foi também bonito o que vi naquele dia. Vi gente pedindo a formação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte. Vi trabalhadores da Petrobras que têm consciência de que a corrupção está sendo combatida e que tal combate não pode manchar o nome da empresa. Eles têm consciência de que a empresa onde trabalham não é uma empresa. É um país. E vi mais. Vi o carro de Lula chegar correndo para entrar na ABI. Dezenas de pessoas atrás dele. Um ambulante, empurrando um carrinho de papelão, me pergunta: “Moça, quem é que tá entrando aí pra essa correria toda?”. Eu disse: “É o Lula”. E ele: “O Lula taí?” “Sim, o Lula”, respondi. Ele pousou o carrinho e, parado por breves instantes, deu o sorriso mais bonito que já vi na vida. Nunca me esquecerei daquele sorriso, nas minhas retinas já tão fatigadas. Será que Lula merece aquele sorriso tão puro? Será que o PT ainda merece governar o Brasil? Quem julga é o povo. E o povo julgou nas urnas. No meio de todas as brigas, estarei sempre ao lado daquele sorriso. Ana Helena Tavaresjornalista, conhecida por seu site de jornalismo político Quem tem medo da democracia?, com artigos publicados no Observatório da Imprensa e na extinta revista eletrônica Médio Paraíba. Foi assessora de imprensa e repórter dos Sindicatos dos Policiais Civis e dos Vigilantes. Universitária, entrevistou numerosas pessoas que resistiram à ditadura e seus relatos (alguns reproduzidos na Carta Capital e Brasil de Fato) serão publicados este mês em livro. Direto da Redação é um fórum de debates com jornalistas de opiniões diferentes, editado pelo jornalista Rui Martins.
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