A PGR negocia as delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador financeiro Lúcio Funaro, ambos presos pela Lava Jato.
Por Redação - de Brasília
Procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot segue disposto a seguir com uma nova acusação do presidente de facto, Michel Temer. Segundo afirmou a jornalistas, "colaborações em curso" podem ajudar nas investigações contra Temer por suspeita de obstrução de Justiça e organização criminosa. Os inquéritos servem para embasar novas denúncias contra o peemedebista.
A PGR negocia as delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador financeiro Lúcio Funaro, ambos presos pela Lava Jato. Janot diz que não pode confirmar as tratativas, mas questionado por jornalistas sobre o que um político como o ex-presidente da Câmara tem para fechar um acordo, ele respondeu:
— O cara está neste nível aqui (faz um sinal com uma mão parada no ar), ele tem que entregar gente do andar para cima [mostra um nível acima com a outra mão]. Não adianta ele virar para baixo, não me interessa — afirmou.
País da carochinha
Janot conclui seu mandato à frente da PGR em 17 de setembro. Ele relatou que pretende tirar férias acumuladas até abril do ano que vem e planeja se aposentar logo depois. O chefe do Ministério Público aproveitou para reforçar sua perplexidade com os atos de Temer e de seu assessor de máxima confiança, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
— Temos de entender que o crime de corrupção não precisa de você receber o dinheiro, é aceitar ou designar a proposta. Receber o dinheiro é a chapada do crime de corrupção. Se a gente não vive um país de carochinha, uma pessoa que designa um laranja para acertar acordo ilícito, que acerta a propina e recebe a mala, vou exigir que a pessoa que designou o laranja receba pessoalmente o dinheiro? Jamais alguém vai comprovar — disse.
Janot mostra ainda convicção de que Temer avalizou a compra do silêncio de Cunha.
— ‘Tem que manter isso' o que é? Uma compra de carne? É uma feitura de suco? É fazer lanche? Qual era o fato que se discutia? 'Eu estou segurando a boca de duas pessoas, Cunha e Funaro'. ‘Muito bom, muito bom, tem que manter isso’. Esse diálogo não foi negado pelo presidente, mas ele diz assim: "A interpretação que eu faço desse diálogo é outra". Se a gente não vive o país da carochinha, vamos interpretar o que está dito, gravado — acrescentou Janot.
Reação de Mendes
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes jantou, na noite passada, com Temer, no Palácio Jaburu. A pauta do encontro teria sido a reforma política. O encontro aconteceu, no entanto, em meio às expectativas de que novas denúncias sejam apresentadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer.
Pouco antes do encontro com Temer, Gilmar Mendes afirmou a jornalistas que STF ficou a reboque da Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso da Lava Jato e desejou ao procurador-geral Rodrigo Janot "uma boa viagem".
— Ele (Janot) perdeu todas as condições de equilíbrio para continuar exercendo o cargo. Infelizmente, o sistema permite isso. Eu tenho criticado o Supremo Tribunal Federal, que ficou a reboque de impulsos do procurador-geral, permitindo a violação da lei de delação e uma série de abusos nessa área. Estamos fazendo uma rediscussão sobre esse tema. Certamente, o Tribunal vai acertar o passo. Acho que haverá o restabelecimento da normalidade na relação do Tribunal com a PGR — disse Mendes.
Doutrina de Curitiba
Ainda segundo Mendes, Janot “perdeu todas condições de equilíbrio para continuar exercendo o cargo”.
Logo após o fim do recesso Judiciário, Mendes afirmou que o direito processual penal brasileiro se tornou “um baguncismo”, e que o próprio STF é um dos culpados.
O ministro afirmou ainda que espera que a Procuradoria-Geral da República (PGR) recupere “um mínimo de decência e normalidade” sob o comando de Raquel Dodge, que assume a chefia da instituição em setembro.
— Tudo isso que já falei: doutrina de Curitiba (em referência à Operação Lava Jato), doutrina Janot (Rodrigo Janot, atual procurador-geral da República), isso não tem nada a ver com direito, é uma loucura completa que se estabeleceu. É uma bagunça completa — conclui Mendes.