Rio de Janeiro, 18 de Dezembro de 2025

Serra gera incidente diplomático na oferta de suborno ao Uruguai

Na visita ao país vizinho no início de julho, Serra esteve acompanhado do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso para uma reunião com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez

Terça, 16 de Agosto de 2016 às 16:36, por: CdB

Na visita ao país vizinho no início de julho, Serra esteve acompanhado do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso para uma reunião com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez

 
Por Redação, com agências de notícias - de Brasília e Montevidéo
A oferta do senador licenciado José Serra (PSDB-SP), atualmente no grupo do presidente de facto, Michel Temer, – com o cargo de chanceler – ao governo democrático do Uruguai gerou um mal estar ainda maior, na tarde desta terça-feira. Após divulgada a decisão do Itamaraty, sob a gestão imposta aos brasileiros após o golpe de Estado que afastou a presidenta Dilma Rousseff, de convocar o embaixador do Brasil no Uruguai, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, Serra causa o primeiro incidente diplomático do novo período de exceção no Brasil. A chancelaria brasileira quer explicações sobre a denúncia do equivalente uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, de que Serra teria tentado “comprar o voto do Uruguai”, em uma clara tentativa de suborno ao país vizinho, ao pedir que não transferisse a Presidência pró-tempore do Mercosul à Venezuela. — Não gostamos muito de que Serra tenha vindo visitar o Uruguai para nos dizer, e ele fez disso algo público, por isso digo, que vinha com a pretensão de que se suspendesse a transferência (da Presidência do Mercosul) e que, além disso, se nós a suspendêssemos, nos levaria em negociações com outros países, tentando comprar o voto do Uruguai — denunciou Novoa a tentativa aberta de suborno, durante encontro da Comissão de Assuntos Internacionais de Deputados na última quarta-feira, cuja declaração transcrita foi publicada pelo jornal local El País, que teve acesso ao documento.
serra.jpgSerra ocupa, interinamente, o Ministério das Relações Exteriores e deixa registrado na história do Itamaraty uma série de gafes internacionais
Na visita ao país vizinho no início de julho, Serra esteve acompanhado do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso para uma reunião com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez. Em entrevista à imprensa, Serra afirmou que o Brasil faria uma “grande ofensiva” comercial na África e no Irã e queria que apenas o Uruguai, entre todos os outros países do Mercosul, participasse como “sócio”. Para tanto, o Uruguai deveria suspender a transferência da Presidência rotativa do bloco, o que o país vizinho recusou-se a fazer. — O presidente o respondeu de maneira clara e contundente: o Uruguai cumprirá com a normativa (do bloco) e vai convocar a mudança da Presidência — informou Novoa. A intervenção de Serra “incomodou muito” o presidente Vázquez, acrescenta o chanceler: — O Uruguai não iria permanecer na presidência de jeito nenhum; atendendo a norma, em seis meses, deixaríamos o cargo. O ministro disse ainda que, para Montevidéu, a “Venezuela é o legítimo ocupante da presidência pró-tempore, portanto, quando convocar uma reunião o governo uruguaio irá. Se os outros não forem, a responsabilidade será deles”. Para ele, Brasil, Paraguai e Argentina — que não reconheceram a Venezuela à frente do bloco — querem “fazer bullying” contra o país. — Eu digo com todas as letras. Eles pulam o jurídico, que contém o corpo normativo [do Mercosul], e, alegando razões que não estão aqui, querem eludir, erodir, fazer bullying contra Presidência da Venezuela. Esta é a pura verdade — afirmou. No entanto, o ministro uruguaio ponderou que o impasse pelo cargo do Mercosul “não poderá se repetir em dezembro, quando a Venezuela tenha que passa-lo à Argentina”.

Nota do Itamaraty

Em resposta, o Itamaraty afirmou por meio de comunicado oficial, que a visita realizada por Serra ao Uruguai visava aprofundar as relações entre os dois países e, assim, o "governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do chanceler Novoa". "O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai", consta na nota, reproduzida adiante, na íntegra.
Ministério das Relações Exteriores 
Assessoria de Imprensa do Gabinete Nota nº 299
16 de agosto de 2016
Declarações do chanceler uruguaio O Governo brasileiro tem buscado, de maneira construtiva, uma solução para o impasse em torno da Presidência Pro Tempore do Mercosul. A visita do Ministro José Serra ao Uruguai, no último dia 5 de julho, realizou-se com esse propósito. Ao Brasil interessa um Mercosul fortalecido e atuante, com uma Presidência Pro Tempore que tenha cumprido os requisitos jurídicos mínimos para o seu exercício e que seja capaz de liderar o processo de aprofundamento e modernização da integração. Durante a visita ao Uruguai, o Ministro José Serra também tratou com o Presidente Tabaré Vázquez e com o Chanceler Nin Novoa do potencial de aprofundamento das relações entre o Brasil e o Uruguai e de oportunidades que os dois países podem e devem explorar conjuntamente em terceiros mercados. O Brasil considera o Uruguai um parceiro estratégico. Nesse contexto, o Governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do Chanceler Nin Novoa sobre a visita do Ministro José Serra ao Uruguai, que teriam sido feitas durante audiência da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados uruguaia, no último dia 10 de agosto. O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai. O Secretário-Geral das Relações Exteriores convocou hoje o Embaixador do Uruguai em Brasília para uma reunião em que expressou o profundo descontentamento do Brasil com as declarações e solicitou esclarecimentos.
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