Síria: Exército pretende reabrir rota de abastecimento entre Hama e Aleppo

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Publicado Quarta, 24 de Fevereiro de 2016 às 08:24, por: CdB

 

Entretanto, o Exército sírio fracassou em retomar algumas vilas estratégicas que estão sob o controle do Estado Islâmico e reabrir a rota de abastecimento

  Por Redação, com Sputnik Brasil - de Beirute/Brasília:  

O Exército sírio e os seus aliados lançaram uma grande ofensiva para expulsar os grupos militantes dos arredores da linha de abastecimento principal das forças governamentais Hama-Aleppo, informou a agência noticiosa iraniana FARS.

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o Exército sírio fracassou em retomar algumas vilas estratégicas que estão sob o controle do Estado Islâmico e reabrir a rota de abastecimento

– O Exército sírio e as Forças de Defesa Nacional (FDN), que haviam capturado um número de pontos de controle ao longo da estada Ithriya-Khanaser, lançaram uma operação conjunta de grande escala em ambas as províncias de Hama e Aleppo para acabar com o controle do Daesh e da Jund al-Aqsa em partes da estrada estratégica – disse o Exército, de acordo com a agência FARS.

– A Força Aérea da Síria e as unidades de artilharia prestaram apoio para as forças terrestres – disse o Exército. Na terça-feira, o Exército anunciou que as forças governamentais retomaram alguns pontos de controle na região.

– As forças governamentais sírias continuaram a atacar linhas de defesa dos grupos terroristas Daesh e Jund al-Aqsa ao longo da estrada Ithriya-Khanaser em Rasma al-Nafal e na região de al-Síria Tel em direção a al-Saan – disse o Exército em comunicado.

Entretanto, o Exército sírio fracassou em retomar algumas vilas estratégicas que estão sob o controle do Estado Islâmico e reabrir a rota de abastecimento. Ao mesmo tempo, as Unidades de Proteção Popular curdas (YPG) e as FDN atacaram centros terroristas na cidade de Aleppo, informou a FARS. O YPG e as FDN, apoiados pela aviação síria, expulsaram os terroristas da zona residencial em alguns bairros e causaram grandes baixas entre eles. A Síria está mergulhada na guerra civil desde 2011. O governo do país luta contra um número de fações de oposição e contra grupos islamistas radicais como o Daesh (também conhecido como “Estado Islâmico”) e a Frente al-Nusra. Na última segunda-feira foi publicada a declaração conjunta dos EUA a Rússia sobre a Síria, segundo a qual o cessar-fogo entre as tropas do governo sírio e os grupos armados da oposição deve começar em 27 de fevereiro, não sendo no entanto este aplicado ao EI, Frente al-Nusra e outras organizações que a ONU considera como terroristas.

Cessar-fogo

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, e mais representantes da oposição síria anunciaram conjuntamente que, na sexta-feira, deverá ser assinado um acordo de cessar-fogo na Síria que deverá entrar em vigor no próximo sábado. Esta é mais uma tentativa de pôr fim à guerra civil no país, iniciada em março de 2011 e que resultou em mais 4 de milhões de pessoas refugiadas e desalojadas, além de um número de mortos que, para organismos como a ONU, é de 250 mil e, para outros, supera os 470 mil. O especialista Diego Pautasso, da Unisinos e da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio Grande do Sul, diz que será difícil a efetivação desse cessar-fogo, “dado que alguns dos grupos que se opõem ao regime de Bashar Assad são grupos terroristas, extremistas, que evidentemente não obedecem a acordos e normas”. Pautasso pensa que os terroristas são o principal problema para a efetivação do acordo, “embora, por outro lado, seja possível que alguns desses grupos ou a maior parte deles queira um acordo, porque esse é um momento de ofensiva do regime, talvez seu melhor momento nos últimos tempos, e isso pode dar um fôlego para estabelecer algumas negociações e mesmo para os grupos terroristas ganharem algum acúmulo de forças e poder, e eventualmente, num segundo momento, voltar a enfrentar o regime e lhe produzir baixas”. O Professor Diego Pautasso observa, ainda, que o Governo Bashar Assad estava avesso a essa tentativa de implementação do cessar-fogo, justamente por perceber que esse era o momento de avançar e conquistar as últimas cidades ou o resto do país.

– A Rússia, principal aliado, parece que pôs uma certa limitação ao Governo sírio, forçando essa proposta de cessar-fogo. Neste sentido, creio que talvez Assad seja forçado a participar desse acordo, dado também que a Síria depende fortemente do apoio russo para suas operações militares, logísticas e de inteligência.

Sobre as várias correntes oposicionistas, Diego Pautasso comenta que, quanto maior a quantidade de grupos e a diversidade ideológica entre eles, mais complexo se torna o arranjo político desse cessar-fogo. – De todo modo – conclui Pautasso, “a situação de cansaço político e militar de mais de 5 anos de conflito pode ser um ingrediente importante na resolução de um cessar-fogo mesmo que parcial, mesmo que provisório e mesmo com eventuais usos de emprego da força em situações e pontos mais esporádicos do território sírio.” Outro especialista, Jonuel Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense, diz que é imperioso destacar que o acordo foi anunciado pela Rússia e pelos Estados Unidos, e os dois países têm influência sobre algumas forças políticas,  “e uma delas não é de pequeno porte, é exatamente o Governo, que está sob grande influência e depende muito do apoio russo”.

– Há várias forças rebeldes – enfatiza o Professor Gonçalves, “as chamadas forças laicas, que dependem de fornecimentos ocidentais e já há algum tempo reclamam que o Ocidente está subalternizando essas forças, não está fornecendo equipamentos. É de se acreditar que os EUA tenham convencido esses combatentes de que, se respeitarem o cessar-fogo, ficam em melhor situação política, e, em caso de necessidade, o Ocidente poderia retomar o fornecimento de armamentos. Então, por duas razões distintas há dois blocos de atores internos da Síria que podem acompanhar os EUA e a Rússia nesse cessar-fogo.”

Jonuel Gonçalves ainda questiona a capacidade de distúrbio do Daesh [o autodenominado Estado Islâmico] e se o acordo se aplica a forças que não o assinaram. Além disso, diz o especialista, “com experiências de outras guerras, estamos acostumados a verificar que o cessar-fogo anunciado para muitos dias depois – e muitos dias, num conflito desse tipo, bastam que sejam 48 horas – já dá margem de manobra a que diversas coisas se passem na região”. – Quer dizer, antes de o cessar-fogo entrar em vigor, muita gente vai tentar alterar a correlação de forças fazendo operações de última hora – conclui o Professor Jonuel Gonçalves. “Algumas dessas operações podem ser consideradas tão agressivas que vários dos signatários do acordo dirão que não estão implicados mais nele.”  
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