Taxa Zero praticada pelas corretoras de investimento é um benefício real?

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Publicado Sábado, 26 de Agosto de 2017 às 13:55, por: CdB

No mundo corporativo, e principalmente no mercado financeiro, não existe almoço grátis. Ninguém entra no mercado para fazer caridade, jogar dinheiro fora ou perdê-lo.

 

Por Alexandre Prado - de São Paulo

Com a popularização de plataformas e aplicativos especializados, acompanhar o mercado financeiro tornou-se algo realmente viável. Da mesma forma, entrar neste mercado – que era algo para indivíduos mais bem preparados ou detentores de altas somas – foi muito facilitado pelo acesso às informações sobre corretoras e fundos de investimento.

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Analista recomenda avaliar se a taxa zero é mesmo um benefício

Quem tem acompanhado o mercado financeiro deve saber que algumas corretoras adotam o discurso de cobrar taxa zero para determinados investimentos. Mas, até que ponto que este “zero” na taxa é verdadeiro? Vamos analisar.

Tenho convicção que no mundo corporativo, e principalmente no mercado financeiro, não existe almoço grátis (lembrando a mítica frase “there’s no free lunch”), ou seja, ninguém entra no mercado para fazer caridade, jogar dinheiro fora ou perdê-lo.

Taxa zero?

Pragmaticamente falando, o que determinada os preços de um prestador de serviços – inclusive corretoras de investimentos – são sua estrutura de custos. O que se observa é que algumas delas possuem uma estrutura tradicional e pesada e outras – como as ‘startups’ fintechs (sobre as quais já escrevi no acionistas.com.br) – adotam políticas claras de custos e preços reduzidos devido ao modelo de negócios que seguem.

Então, por que ainda existe essa polêmica de taxa zero?

Primeiro porque não chega a ser uma novidade: várias corretoras trabalham com taxa zero especificamente para custódia de títulos; mas várias ainda adotam o discurso como estratégia de marketing.

Segundo porque, se não existe almoço grátis, de que forma o investidor está bancando a refeição dos corretores?

Corretagem

Existem diversos custos – alguns visíveis e outros ocultos – no modelo de negócios de uma corretora de valores. Para o investidor, o que conta não é o valor isolado de cada taxa, mas sim quanto dinheiro ele investiu e quanto ele vai conseguir resgatar no futuro, já descontadas todas as taxas e impostos.

O problema é que o dinheiro investido passa por muitas mãos entre o dia em que é aplicado e o do resgate. Existem o emissor do título, a corretora, os agentes autônomos, o banco, a BM&FBovespa, a Cetip, e nas duas pontas, o investidor.

Genericamente falando, uma estratégia comum adotada pelas corretoras é zerar uma taxa e pesar a mão em outra. Por exemplo: uma instituição divulga que vai cobrar taxa de administração – que algumas corretoras chamam de taxa de custódia e significa o que é cobrado pela corretora para intermediar a compra de títulos do Tesouro Direto – zero! Mas, compensam este desconto na taxa de corretagem – que é cobrada cada vez que o investidor dá ordem para comprar ou vender ações ou algum outro ativo de renda variável.

Desconto

Se o investidor dá cinco ordens de compra de R$ 1.000, paga cerca de cinco vezes mais do que se desse uma única ordem de R$ 5.000. Ou seja, a corretagem gera na instituição o interesse em que seus clientes façam muitas operações de compra e venda. O investidor de longo prazo, que compra hoje e vai vender daqui a cinco anos, não interessa a quem vive de corretagem.

Outra estratégia é, ao deixar de cobrar a taxa de custódia, as corretoras criam ou aumentam os spreads, ou seja, diminuem o retorno dos títulos ofertados ao investidor. Como esse custo não é visível a quem investe, seria interessante comparar as taxas de algumas corretoras para avaliar se a rentabilidade é de fato atrativa.

O desconto na taxa de custódia poderá facilmente ser compensado por um retorno menor oferecido nos CDBs e nas LCAs e LCIs, e nem sempre o investidor sairá no lucro.

Investidor

Agora, há a possibilidade de ser uma estratégia financeira com visão de médio e longo prazos. Algumas corretoras aceitam abrir mão de receitas anuais de ordem de milhões de reais, isentando taxas, mas esperam, assim, conquistar milhares de clientes para sua carteira. Como isso, deixam de ganhar dinheiro agora, mas devido ao volume, ganham lá na frente. Está errado? Não, só uma estratégia de negócios diferente.

Em resumo: não tem mágica! Se uma corretora não estiver cobrando taxa nenhuma, ou ela vai fechar ou está cobrando de alguma forma que o investidor não está vendo.

Ao investidor ficam algumas dicas finais:

·         Aproveite as isenções de taxas, mas não se concentre apenas em custo. A experiência de investir vai além das tarifas, e passa por serviços ofertados, atendimento e diversidade/atratividade de produtos;
·         Analise os custos pagos versus a rentabilidade auferida;
·         Compare, mais do que nunca, as taxas oferecidas;
·         Negocie as taxas com sua corretora ou banco atual; e
·         Tenha contas em mais de uma corretora e adquira o hábito de pesquisar antes de investir. As ofertas podem variar bastante, assim como os produtos disponíveis nas plataformas. Ter mais de uma conta vai dar um pouquinho de trabalho na abertura, mas não vai ter custo.

Ser criterioso e curioso, pesquisar e identificar as melhores modalidades de investimento a cada caso e perfil pode ser uma boa estratégia. Invista conscientemente.

Bons investimentos!

Alexandre Prado é coach, consultor, especialista em finanças, escritor, articulista e professor de cursos na área de desenvolvimento humano e organizacional. É também presidente da Núcleo Expansão. Tem no currículo sólida formação acadêmica, incluindo especializações em Nova Iorque, Boston e Oxford e vasta experiência como alto executivo de empresas nacionais e multinacionais.

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