Amigo de Moro citado em CPMI, Zucolotto é convocado a depor

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Publicado Quinta, 30 de Novembro de 2017 às 12:52, por: CdB

Em seu depoimento à CPMI da JBS, Tacla Durán disse que Zucolotto, amigo de Moro, teria oferecido vantagem em troca de propina.


Por Redação - de Brasília

 

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS ouviu nesta quinta-feira, por videoconferência, o ex-consultor do Grupo Odebrecht Rodrigo Tacla Duran.
O advogado, que mora na Espanha, foi chamado a depor a pedido dos deputados Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS). Em seu depoimento, Duran revelou que a Odebrecht teria fraudado documentos apresentados em seu acordo de delação premiada.

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Zucolotto (E), ao lado de Moro, que tieta o cantor Samuel Rosa, com a mulher, Rosângela (C)

O advogado também citou o amigo e padrinho de casamento do juiz Sérgio Moro, o advogado Carlos Zucolotto Júnior, sócio de uma empresa da qual a mulher do juiz, Rosângela Wolff Moro, integrava o quadro societário. Zucolotto foi acusado de oferecer benefícios a réus da Operação Lava Jato, em troca de propina. Ele será convocado a depor na CPMI, nas próximas semanas.

Em nota, O juiz federal confirmou a amizade com o advogado, quem diz ser “sério e competente”. Garantiu, ainda, que a acusação contra Zucolotto era falsa. E argumentou que Tacla Durán seria foragido da Justiça, portanto, não mereceria crédito.

Marqueteiros

O depoimento de Durán, a partir de um ponto não definido da Espanha, onde se encontra, teve início na manhã desta quinta-feira e terminou no início desta tarde. Tacla Duran confirmou ao plenário da CPMI, esvaziado após a retirada dos deputados e senadores de direita, que a força-tarefa da Lava Jato não apenas usou documentos forjados; mas omitiu contas no exterior que eram ligadas aos suspeitos. Assim, os recursos dessas contas não seriam bloqueados pela Justiça e poderiam ser usados, livremente.

O caso específico, citado pelo depoente, foi o do casal João Santana e Mônica Moura. Eles fizeram campanhas do PT e atribuíram dinheiro de propina à campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2014; em acordo de delação premiada. Ambos encontram-se em prisão domiciliar, em um luxuoso apartamento na capital baiana. Cumprem pena decretada pelo juiz Sergio Moro por 19 atos de lavagem de dinheiro.

O casal de marqueteiros foi absolvido do crime de corrupção. A condenação seria de oito anos em regime fechado mas, após celebrar a delação premiada, a pena foi substituída por prisão domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica por um ano e meio. Eles deixaram a prisão em agosto de 2016 e em 2018, ano eleitoral, estarão livres para retomar suas atividades.

Extratos falsos

O advogado também relatou, em seu primeiro depoimento formal, no Brasil, ter recebido de um funcionário da Odebrecht uma planilha com contas no exterior; para que ele identificasse os donos dessas contas. Tacla Durán disse não ter conseguido cumprir a tarefa da empreiteira. Os sistemas a que tinha acesso "não foram suficientes”, disse.

— Era preciso quebrar o sigilo — acrescentou.

O funcionário teria ficado "bastante chateado, irritado" com a resposta, disse Durán, pois precisava "dar uma resposta ao Marcelo (Odebrecht)" sobre as contas. A empresa pretendia pressionar o governo Dilma, relatou, com a informação de que havia dinheiro de propina relacionado à campanha da presidenta prestes a ser deposta.

— A perícia comprova que os extratos do Meinl Bank são falsos. Comprovam também que o sistema Drousys da Odebrecht foi manipulado e adulterado, antes, durante e depois de ter sido bloqueado pelas autoridades da Suíça. Isso quer dizer que essas informações não se prestam como provas pra incriminar quem quer que seja; muito menos deputados, senadores e o presidente. A prova é nula — disse Durán.

Remuneração

Em resposta ao deputado Wadih Damous (PT-RJ) na CPMI, Durán citou um pedido do advogado Carlos Zucolotto Júnior; o amigo e ex-sócio da família Moro. O advogado paranaense negociava um acordo para o colega espanhol; para que fosse feito um pagamento "por fora”. Desta forma, o acordo com o Ministério Público Federal (MPF) seria “bem sucedido”, mas lhe custaria R$ 5 milhões, em honorários.

— Eu não aceitei porque me senti constrangido — disse Durán.

O depoente acrescentou que, no acordo, ele teria de assumir crimes que não teria cometido. O valor a ser pago seria uma remuneração para o advogado que intermediaria o acordo "e para quem o estava ajudando”, disse Tacla Durán.

— E seria pago em troca da atuação dele no caso — emendou, sem revelar a identidade do suposto colaborador.

‘Panela de Curitiba’

Tacla Durán também revelou ter sido aconselhado por um consultor da empreiteira UTC, para a qual trabalhava. O colega recomentou que contratasse um advogado "da panela de Curitiba”. Seria uma espécie de garantia para para que seu objetivo fosse bem sucedido.

— Eles falavam com a experiência de quem já tinha firmado um acordo — disse, referindo-se ao delator Ricardo Pessoa, dono da construtora.

Em seguida, explicou que interpretara "panela de Curitiba" como referência a advogados com "bom trânsito e bom acesso à força-tarefa". Assim, procurou Zucolotto para tentar encaminhar o acordo e, adiante, buscou o advogado Marlus Arns. A este último recebeu pagamento de US$ 1,5 milhão em honorários, mais impostos. Segundo o depoente, Zucolotto "confirmou que tinha" proximidade com a força-tarefa da Lava Jato.

Pressão

Os integrantes da força-tarefa repudiaram as afirmações. Disseram, anteriormente, que a negociação de delação premiada de Durán fora encerrada por ser incompatível com os requisitos legais; não pelos motivos alegados por ele.

Durán, no entanto, sentiu-se pressionado tanto pelos procuradores quanto pelo advogado a celebrar o acordo. Afirmou, ainda, que o MP o impediu de celebrar um acordo de colaboração nos Estados Unidos; por ter vazado um depoimento de outra pessoa envolvida com a Odebrecht.

A intervenção teria ocorrido no momento em que negociava os benefícios com as autoridades norte-americanas. O vazamento deixou questionáveis algumas das informações prestadas por Durán; e o acordo não foi adiante.

‘Vai lá e grava’

O advogado salientou, ainda, a pressão de procuradores para que, nas delações, as linhas de investigação sejam corroboradas. Ele afirmou que existe a tentativa de influenciar os delatores a citar políticos renomados. Ele usou como exemplo supostos questionamentos do hoje ex-procurador Marcello Miller.

— O (ex-)procurador Marcello Miller começou a dizer uma lista de parlamentares, perguntando: 'Qual conhece? Qual pode entregar? De qual pode falar?' — disse Duran.

Miller também foi alvo de outra acusação. Durán disse que, enquanto negociava a delação, foi chamado para uma reunião pela Odebrecht e contou aos procuradores com quem negociava. Afirmou ter ouvido de Miller a frase "então, vai lá e grava".

Diante da resistência para gravar o encontro, o então coordenador do grupo de trabalho da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR), Sérgio Bruno, teria sugerido que apenas "contasse" o que fosse dito no encontro.

Diante das acusações tornadas públicas, e oficiais, Durán poderá ser chamado a depor em outras instâncias do Judiciário.

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