Barroso quase vai às vias de fato na discussão com Gilmar Mendes

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Publicado Sexta, 27 de Outubro de 2017 às 14:01, por: CdB

Bate-boca entre os ministros do STF Luís Barroso e Gilmar Mendes serve de termômetro para avaliar alta temperatura política em curso no país.

 

Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

 

O entrevero entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite passada, teve mais um round. Na manhã desta sexta-feira, o ministro Luís Roberto Barroso confessou que esteve prestes a partir para uma alternativa ainda mais acalorada, prestes às ‘vias de fato’. Barroso comentou, com jornalistas, que realmente se exaltou e ‘quase passou da linha’.

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Barroso, magistrado de fala pausada e ideias claras, não suportou mais as provocações de Gilmar Mendes

Barroso acusou o colega Gilmar Mendes de leniência com o crime de colarinho branco. Isso, depois de chamá-lo de mentiroso, porque “não trabalha com a verdade”.

— Vocês ainda vão ter filhos. Eles nunca nos escutam. Então, sigam meus bons exemplos, mas não os maus. A exaltação não é a melhor forma de se expressar. Às vezes a gente levanta o tom da voz, mas essa não é a melhor forma de viver a vida. Mesmo que às vezes seja necessário, às vezes podemos passar da linha. Não que eu tenha passado. Mas quase — disse o ministro, em meio aos risos, com os alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ), onde leciona há décadas.

Desgaste

Gilmar Mendes procurado por jornalistas, preferiu desviar do assunto. Outros integrantes do STF disseram que sabiam do desgaste entre os ministros Barroso e Mendes. Nenhum, porém, admitiu esperar uma reação tão contundente como aquela externada nesta quinta-feira.

Em meio aos debates, Gilmar citou o Estado do Rio de Janeiro como falta de criatividade sobre gestores públicos. Barroso (que nasceu no Rio), o interrompeu. Lembrou-o do Mato Grosso, Estado de origem do colega. Mendes, no entanto, confirmou que falava mal era do Rio de Janeiro mesmo.

— Onde está todo mundo preso — disse Barroso.

— No Rio não estão — declarou Gilmar.

— Sim. Aliás, nós prendemos. Tem gente que solta — alfinetou Barroso.

José Dirceu

Mendes, por sua vez, lembrou que Barroso teria soltado o ex-ministro José Dirceu da cadeia. Foi o suficiente para Barroso partir para um ataque frontal:

— Vossa Excelência devia ouvir a última música do Chico Buarque: ‘a raiva é filha do medo e mãe da covardia’. Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro. Não julga. Não fala coisas racionais, articuladas. Sempre fala coisa contra alguém, está sempre com ódio de alguém, com raiva de alguém. Use um argumento.

Leia, adiante, as declarações de ambos os ministros:

Gilmar Mendes: “A prova que falta criatividade para o administrador é o Rio de Janeiro. A gente citar o Rio como exemplo”

Luís Roberto Barroso: “O senhor deve achar que é Mato Grosso”

GM: “Não, não. É o Rio de Janeiro mesmo”

LRB: “Onde está todo mundo preso”.

GM: “No Rio não estão”.

LRB: “Sim. Aliás, nós prendemos. Tem gente que solta”.

GM: “Solta cumprindo a Constituição, quem gosta de prender. Vossa Excelência quando chegou aqui soltou José Dirceu”.

LRB: “Porque recebeu indulto do presidente da República”.

GM: “Não, não! Vossa Excelência julgou os embargos infringentes”.

LRB: “Absolutamente! É mentira. Aliás, Vossa Excelência, normalmente, não trabalha com a verdade. Então, gostaria de dizer que José Dirceu foi solto por indulto da presidente da República [Dilma Rousseff]. Vossa Excelência está fazendo um comício que nada tem a ver com extinção de tribunal de contas no Ceará. Vossa Excelência está queixoso porque perdeu o caso dos precatórios e está ocupando o tempo do plenário com um assunto que não é pertinente para destilar esse ódio constante que Vossa Excelência tem. E agora dirige contra o Rio. Vossa Excelência devia ouvir a última música do Chico Buarque: ‘a raiva é filha do medo e mãe da covardia’. Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro. Não julga. Não fala coisas racionais, articuladas. Sempre fala coisa contra alguém, está sempre com ódio de alguém, com raiva de alguém. Use um argumento”.

Cármen Lúcia: “Ministros,
eu pediria que a gente voltasse
ao julgamento do caso”.

GM: “Eu vou voltar, presidente. Só queria lembrar que os embargos infringentes do José Dirceu foram decididos aqui…”

CL: “Ministro, se pudesse voltar ao caso do Tribunal de Contas. Este é o caso que está em julgamento”.

GM: “E se dizia que o Mensalão era um caso fora da curva…”

LRB: “José Dirceu permaneceu preso sob minha jurisdição. Inclusive, revoguei a prisão domiciliar pois achei imprópria e concedi a ele indulto com base em decreto aprovado pela presidente da República, porque ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Portanto, apliquei a ele a lei que vale para todo mundo. Quem decidiu foi o Supremo. Aliás, não fui eu. O Supremo tem 11 ministros. A maioria entendeu que não havia o crime. Depois, ele cumpriu a pena e só foi solto por indulto, e mesmo assim, permaneceu preso por determinação da 13ª Vara Criminal de Curitiba. E agora só está solto porque a 2ª Turma determinou. Não transfira para mim essa parceria que Vossa Excelência tem com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco”.

GM: (em meio a risos) “Imagina!”

CL: “Ministros, por gentileza, estamos no plenário de um Supremo Tribunal e eu gostaria… Vamos voltar!”.

Assista, adiante, ao vídeo do bate-boca:

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