Bolsonaro retalia Argentina por receber Lula de braços abertos

Arquivado em:
Publicado Quinta, 09 de Dezembro de 2021 às 13:39, por: CdB

Na sexta-feira da semana que vem, será realizada a cúpula do grupo de países sul-americanos. Em um primeiro momento, o encontro entre os líderes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai seria presencial, entretanto, Bolsonaro (PL) resolveu mudar os planos uma semana antes.

Por Redação - de Brasília
Magoado pela recepção calorosa do povo argentino ao líder popular brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT a um terceiro mandato, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta diminuir a visibilidade da cúpula de chefes de Estado do Mercosul e, consequentemente, do presidente argentino, Alberto Fernández.
fernandez.jpg
Desde a vitória de Alberto Fernandez, na Argentina, o presidente Bolsonaro tenta estabelecer um mal estar com o país vizinho
Na sexta-feira da semana que vem, será realizada a cúpula do grupo de países sul-americanos. Em um primeiro momento, o encontro entre os líderes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai seria presencial, entretanto, Bolsonaro (PL) resolveu mudar os planos uma semana antes. Agora, o encontro será virtual, e o motivo seria a visita do ex-presidente Lula, à Argentina nesta quinta-feira. Lula encontrou-se com Alberto Fernández e Cristina Kirchner, e ficará em terras argentinas até segunda-feira. Segundo a mídia conservadora, Bolsonaro ficou irritado quando soube da nova investida de Lula no exterior, e resolveu diminuir a visibilidade da cúpula e de Fernández.

Hostilidade

Em junho último, o presidente brasileiro fez comentários indelicados sobre o presidente argentino, o comparado a Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e dizendo que "para os dois não há vacina", conforme noticiado. A sutil hostilidade entre os dois mandatários enfraquece as dinâmicas do bloco do Mercosul, que na visão do ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, é uma "armadilha" para o Brasil. Com esta medida, no entanto, o governo Bolsonaro, apenas aumenta sua desaprovação junto ao eleitorado brasileiro, que anda na casa dos 60%, segundo a pesquisa PoderData divulgada nesta manhã. No levantamento anterior, feito há 15 dias, este índice era de  56%. Ainda conforme o estudo, 31% do eleitorado aprova a atual gestão, uma ligeira queda em relação à pesquisa anterior, quando 33% disseram apoiar o governo. O levantamento também destaca que 54% dos entrevistados avaliam o trabalho do chefe do Executivo como  “ruim” ou “péssimo”, ante 57% do estudo anterior. Os que consideram o desempenho “ótimo” ou “bom” somam 22%, mesmo índice da pesquisa realizada há 15 dias e o menor patamar já registrado pela série histórica iniciada em abril de 2020.

Mercosul

Os que disseram considerar o desempenho de Bolsonaro  “regular” totalizam 20%, contra 16% na última pesquisa. Os que não souberam responder são 4%. Ainda de acordo com a pesquisa, a  diferença entre os que acham Bolsonaro “ótimo” ou “bom” e “ruim” ou “péssimo” foi de 32 pontos percentuais, ante o recorde de 35 pontos apontado há 15 dias. A pesquisa foi realizada entre os dias 6 e 8 de dezembro de 2021 por meio de 3 mil entrevistas em 489 municípios das 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual, para mais ou para menos. Bolsonaro e seu ministro da Economia, o empresário Paulo Guedes, também representam uma imagem negativa do país junto aos vizinhos. Após a fala do ministro da Economia afirmando que o Mercosul "impediu o Brasil de se desenvolver", especialistas ouvidos pela agência russa de notícias Sputniknews avaliam o desgaste do Brasil em relação ao bloco.

Integração

Na última terça-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu mais uma vez a modernização das regulamentações do Mercosul, avaliando que a entrada do Brasil no bloco comercial foi uma "armadilha". Para o ministro, o Mercosul "impediu o Brasil de se envolver em uma integração produtiva mais eficiente". — Ficar fechado (no Mercosul) foi muito prejudicial para o Brasil nos últimos 30 anos. O Brasil está negociando menos com nossos parceiros hoje. Então foi uma armadilha. Isso impediu o Brasil de se envolver em uma integração produtiva mais eficiente, de se integrar em cadeias globais — disse Guedes, a jornalistas. Ao mesmo tempo, o ministro estaria conversando "com amigos" nas últimas reuniões do bloco e defendendo duas medidas: a redução de tarifas de importação e a liberdade de acordos bilaterais por fora das negociações do grupo.

Tarifa Externa

A ideia, no entanto, bate de frente com os planos da Argentina, também membro do Mercosul, que insiste em uma redução mais gradual da Tarifa Externa Comum (TEC), a partir de 2023. Segundo o professor do curso de Relações Internacionais da Inest/Uff, Marcio Malta, no entanto, o discurso de Guedes é um ataque a estrutura do bloco, sendo uma tentativa de esvaziamento do mesmo, pois não existiria nenhum tipo de empecilho para as negociações entre os países. A partir desse ponto de vista, as declarações do ministro seriam uma expressão neoliberal em um contexto que não detém apenas um viés econômico, mas também conta com fortes elementos políticos, sociais e culturais. Segundo Malta, os países que compõem o bloco representam importância significativa na economia brasileira, por exemplo a Argentina, que é um dos principais importadores do Brasil, e ao mesmo tempo é o principal país do qual o Brasil importa trigo. Trava-se assim uma interdependência bastante expressiva que não deveria ser tratada de forma reducionista pelo Ministério da Economia. — Essa manifestação do ministro Paulo Guedes é reprodução de um neoliberalismo tacanho porque é um discurso que é uma pretensa modernização, mas no final, nada mais é do que uma liberalização do comércio, porque não se preocupa com os interesses estratégicos e tem como objetivo abrir a economia nacional para interesses forasteiros e de mercado — resumiu Malta.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo