Tucano de alta plumagem consta na delação premiada de Paulo Preto

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Publicado Segunda, 24 de Outubro de 2016 às 11:30, por: CdB

O empresário Luiz Nascimento, dono da empreiteira Camargo Corrêa, uma das maiores do país, no entanto, já havia citado Paulo Preto. Nascimento falou à Lava Jato e confirmou o pagamento de propinas ao executivo em contratos superfaturados no Rodoanel paulista

 

Por Redação - de Brasília e São Paulo

 

O engenheiro Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, como o chamam no PSDB, está prestes a iniciar uma delação premiada. Arrecadador de recursos para a campanha do candidato derrotado em 2010, senador José Serra (PSDB-SP), Preto causa insônia no ninho tucano.

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Temer, ao lado do senador José Serra (PSDB-SP), que ocupa o Ministério das Relações Exteriores: isolados

Segundo nota da colunista Vera Magalhães, do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, “Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, começou a negociar com o Ministério Público para admitir sua atuação na arrecadação de propinas para o PSDB em obras importantes do governo de São Paulo nos últimos anos. O ex-diretor da Dersa foi tragado pela Lava Jato no recall dos acordos de delação da Camargo Corrêa, depois de ter sido citado por executivos da Odebrecht. O clima no PSDB paulista é de tensão total”.

O empresário Luiz Nascimento, dono da empreiteira Camargo Corrêa, uma das maiores do país, no entanto, já havia citado Paulo Preto. Nascimento falou à Lava Jato e confirmou o pagamento de propinas ao executivo em contratos superfaturados no Rodoanel paulista. A roubalheira ocorreu durante as gestões de José Serra e Geraldo Alckmin. Nascimento voltou a falar temendo que sua delação fosse anulada por omissões anteriores. E voltou a citar Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, tido como um dos principais operadores do PSDB, em São Paulo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, "a Construtora Camargo Corrêa esclarece que as citações publicadas são improcedentes". Na nota, "reitera que fechou acordo de leniência com a justiça para corrigir irregularidades e aprimorar seus programas de controle interno e compliance".

Dinheiro sujo

O nome de Paulo Preto está ligado às verbas destinadas às obras do Rodoanel. Ele teria sido direcionado dinheiro sujo para uso na campanha eleitoral de Serra e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. O contrato mencionado foi celebrado entre o Dnit e a Departamento de Obras Rodoviárias de São Paulo (Dersa), então comandada por Paulo Preto.

Preto falou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou os crimes cometidos pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ele foi acusado por líderes do PSDB de ter arrecadado dinheiro de empresários e não entregá-lo para a campanha. Segundo os líderes tucanos José Gregori e Sérgio Freitas, eles eram as únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido. O ex-ministro Eduardo Jorge, vice-presidente nacional do PSDB, confirmou a informação.

– Não podemos calcular exatamente quanto o Paulo Preto conseguiu arrecadar. Sabemos que foi no mínimo R$ 4 milhões, obtidos principalmente com grandes empreiteiras. E que esse dinheiro está fazendo falta nas campanhas regionais – disse a “um ex-secretário do governo paulista". Segundo a revista, a fonte ocupava cargo estratégico na campanha de José Serra à Presidência”.

'Ingratidão humana'

Paulo Preto, na CPMI, criticou “a ingratidão humana” e reclamou que foi “demitido após entregar as oito maiores obras deste país”. Falou após o mal estar causado junto à cúpula tucana.

– O (José) Aníbal (ex-líder do PSDB na Câmara) disse q eu fugi… Nunca saí de São Paulo – contrapôs Paulo Preto, antes de seguir para o ataque e acusar a “alta plumagem, que eu sei onde está, mas não aparece aqui. Eu estou aqui…”.

Ele acrescentou que move, hoje, sete processos criminais e nove por danos morais (dos quais já ganhou cinco em segunda instância). Dois deles contra a revista IstoÉ.

– Não tenho medo de absolutamente nada – disse ele. E ressaltou que abriu seu sigilo bancário por iniciativa própria. Afirmou também que as revistas IstoÉ, Época e Carta Capital fizeram matérias mentirosas e estão sendo processadas. Ele também negou denúncia publicada em 2010 pela imprensa de que havia “desaparecido” com R$ 4 milhões destinados à campanha de José Serra. Ele desafiou alguém a comprovar a denúncia e disse que gostaria de saber quem é seu inimigo (que teria inventado essa história).

Malha fina

Depois de Paulo Preto, o segundo a cair na malha fina da Lava Jato foi o senador José Serra. Ocupante do ministério das Relações Exteriores, o senador José Serra já havia deixado pegadas no escândalo conhecido como ‘Privataria Tucana’. Dessa vez, foi apontado como beneficiário do dinheiro ilícito apurado nas obras viárias do Rodoanel, pagas por Marcelo Odebrecht. Em sua defesa, disse apenas que nunca autorizou ninguém a falar em seu nome, sem admitir, ou negar, os fatos.

Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht detalhou o caminho dos R$ 23 milhões recebidos por Serra durante a campanha presidencial de 2010. Parte dos recursos avaliados, hoje, em R$ 34,5 milhões, decolou de contas no exterior, o que implicaria na cassação do registro do PSDB. Ou pior. Serra poderá ser preso, caso as doações sejam originárias de propina e desvios de recursos públicos da Dersa, a estatal paulista responsável pela construção do Rodoanel, uma vez que a Odebrecht também apontou corrupção na construção do Rodoanel e supostos intermediários de Serra na arrecadação de propinas.

Embora o chanceler negue irregularidades e diga que sua campanha captou apenas recursos legais, o executivo afirma dispor dos recibos de pagamentos feitos no exterior. Nesse caso, caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar Serra e abrir uma nova vaga no ministério de Temer.

Alto risco

Ainda segundo a colunista do Estadão, a prisão preventiva de Eduardo Cunha “é um revés para o governo Michel Temer. Cita o potencial estrago que uma eventual delação do ex-todo poderoso presidente da Câmara pode causar no coração do PMDB”. Ainda segundo a jornalista, Cunha tem o poder de “colocar o governo ainda mais na mira”.

“A queda de Cunha deve acelerar as tratativas pluripartidárias que já estão em curso para tentar conter a Lava Jato”, afirmou. “Como um projeto do senador Romero Jucá que endurece as punições e muda os conceitos de abuso de autoridade”, acrescenta. Jucá também é investigado na Lava Jato e renunciou da equipe de Temer por conta de denúncias contra ele.

Ainda segundo Magalhães, “Cunha foi, por muito tempo, uma espécie de caixa único do PMDB”. Seria responsável por “arrecadar recursos com empresas e repassa-los a candidatos do partido país afora”, escreveu. “Esse ‘serviço’ ajudou a galvanizar sua enorme influência no partido e junto a grupos empresariais poderosos”.

“Preso sem perspectiva de sair, partir para a delação, Cunha pode de fato abalar o novo regime”, prevê.

Matéria atualizada nesta quarta-feira, às 11h08, para acréscimo de informações.
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