Em vídeo, bolsonarista Luciano Hang zomba de senadores da CPI

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Publicado Segunda, 27 de Setembro de 2021 às 14:26, por: CdB

Um dossiê elaborado por médicos que trabalharam na operadora de saúde Prevent Senior aponta que os profissionais eram pressionados a fazer uso do Kit Covid e que os pacientes e seus familiares não eram informados sobre o uso dos medicamentos ineficazes.

Por Redação - de São Paulo
O empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, fez pouco caso da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid em um vídeo no qual aparece com uma algema presa a um dos punhos. O vídeo foi gravado com claro objetivo de desmoralizar o trabalho dos senadores.
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O empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, seria um dos mentores do esquema criminoso na internet
O equipamento policial, diz Hang, foi comprado para economizar custos caso seja preso durante o depoimento à CPI, marcado para esta quarta-feira. — Se por acaso eles não aceitarem aquilo que vou falar, já comprei... Para não gastar dinheiro com algema, já comprei uma algema, vou entregar uma chave para cada senador. E que me prendam — disse Hang, em tom sarcástico.

Gabinete

Em outro trecho da gravação, o empresário diz que irá comparecer à oitiva “com o coração aberto”. — Gentileza gera gentileza, respeito gera respeito. Eu quero que eles façam as perguntas e eu tenha todo o tempo do mundo para responder. Eu tenho tanto tempo, toda a quarta-feira vai estar disponível. Eu trabalho 24 horas por dia, então vou ter todo o tempo do mundo — continuou. O empresário é um dos principais defensores do chamado tratamento precoce, que usa medicamentos sem eficácia científica comprovada contra a Covid-19. O depoimento de Hang é visto pela CPI como de grande importância para verificar um possível elo entre as políticas de enfrentamento à pandemia por parte do governo Jair Bolsonaro e empresas privadas.

Complicações

Um dossiê elaborado por médicos que trabalharam na operadora de saúde Prevent Senior aponta que os profissionais eram pressionados a fazer uso do Kit Covid e que os pacientes e seus familiares não eram informados sobre o uso dos medicamentos ineficazes. O material também destaca que os  prontuários do médico Anthony Wong, defensor do tratamento precoce, e Regina Hang, mãe de Luciano Hang, foram alterados de maneira a ocultar que eles teriam morrido em decorrência de complicações provocadas pela Covid-19. Nesta terça-feira, a CPI ouvirá, a partir das 10h, a advogada Bruna Morato, representante dos médicos que trabalharam na Prevent Senior e elaboraram um dossiê entregue à comissão com diversas denúncias sobre o tratamento da empresa aos pacientes com covid-19, inclusive com a alteração de prontuários.

Prevent Senior

O requerimento de convocação de Morato foi apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Nos últimos dias, a CPI tem se dedicado a mais uma linha de investigação: eles apuram, a partir do dossiê dos médicos, se a operadora usou indiscriminadamente em pacientes da rede remédios sem eficácia comprovada pela ciência, como a hidroxicloroquina. Os senadores ainda apuram se a Prevent Senior realizou experimentos com pacientes sem autorização das famílias e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e se esses estudos teriam sido usados pelo Ministério da Saúde por meio do "gabinete paralelo”. Na última quarta-feira, quando a CPI ouviu o diretor-executivo da operadora Pedro Benedito Batista Jr, senadores denunciaram que relatos e mensagens apresentados por médicos que trabalharam na empresa de saúde indicam que a Prevent Senior alterava atestados de óbitos para ocultar a morte de pacientes por covid-19.

‘Fraudulento’

Eles também afirmaram que o dossiê apontava para indícios de que os médicos da rede seriam orientados a fraudar os prontuários, alterando a Classificação Internacional de Doença (CID) dos pacientes que deram entrada com covid-19 e colocando no lugar qualquer outra enfermidade. Em seu depoimento, Batista Jr. chegou a admitir alteração da CID em prontuários médicos, mas negou as acusações contidas no dossiê, que classificou de “fraudulento”. Os senadores querem agora esclarecer os detalhes do documento junto a representante dos médicos e confrontar os dados. — Terça-feira nós vamos ter aqui a advogada do grupo dos médicos da Prevent Senior que fizeram aquela denúncia. Ela deve vir acompanhada de algum dos médicos. Nós vamos poder confrontar tudo aquilo que foi dito pelo diretor-executivo da Prevent Senior que, inclusive, tentou colocar toda a responsabilidade do que aconteceu nas costas dos profissionais médicos — concluiu o senador Humberto Costa (PT-PE).
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