Na semana passada, pela primeira vez em 111 anos, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) confirmou que a população do país poderá ficar sem energia diante da “situação crítica” dos reservatórios de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Além do risco de perda da soberania energética e da fragilização do sistema integrado de distribuição, a Medida Provisória que autoriza a privatização da Eletrobras também ameaça os investimentos necessários na infraestrutura energética para minimizar a crise hídrica que cerca os reservatórios de cinco das maiores hidrelétricas do Brasil. O alerta é do Sindicato dos Energéticos do Estado de São Paulo, o Sinergia CUT, em nota distribuída nesta segunda-feira.
Na semana passada, pela primeira vez em 111 anos, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) confirmou que a população do país poderá ficar sem energia diante da “situação crítica” dos reservatórios de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. De acordo com a instituição, as regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis pelo fornecimento da maior parte de energia do país, entraram no período de seca com apenas 32,20% da capacidade de geração energética.
Tarifaço
O risco iminente de apagão poderia ser controlado com investimentos em fontes alternativas, como a eólica. Mas o governo de Jair Bolsonaro deve lançar mão dessa possibilidade no pacote que prevê a venda das ações da Eletrobras. O presidente do Sinergia CUT, Carlos Alberto Alves, declarou à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA) que o processo de racionamento deve ser “intensificado por esse projeto de privatização da Eletrobras que vai na contramão do mundo” e ameaça investimentos.
— O que estamos vivendo hoje é um início do período de estiagem que começa em maio e termina em outubro. Estamos nos níveis (de abastecimento) mais baixos das últimas décadas, e vamos ter que fazer uma opção para o país não crescer. Porque se crescer não vai ter energia para tocar as indústrias e o comércio. E sem contar do tarifaço (com a privatização). Estamos caminhando de volta para a época da lamparina — avaliou Alves.
Aprovada no mês passado pela Câmara, a MP que tramita no Senado deve encarecer em ao menos 14% a conta de luz nos próximos três anos, de acordo com a Associação de Engenheiros e Técnicos da Eletrobras (Aesel). Apesar dos custos e dos riscos à soberania do país, líderes governistas insistem na aprovação da proposta, que pode ser apreciada ainda nesta semana. Em entrevista ao portal jurídicoJota, na sexta (4), o senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que o texto deve ser apresentado nesta quarta (9) para ser votado, sem grandes alterações, no dia seguinte.
Apagão
A análise do Sindicato dos Energéticos é que a MP redigida “não tem nenhum compromisso com o país”, e pode repetir o apagão no Amapá. O estado que, dois meses após 20 dias sem energia no ano passado, voltou a ficar sem luz em janeiro de 2021. O fornecimento é operado pela empresa privada Gemini Energy, que ganhou concessão pública para distribuir a energia na região.
A companhia responsável, no entanto, deixou de operar na manutenção, o que provocou o incêndio em uma subestação em novembro de 2020. A energia só pôde de fato ser retomada com ajuda pública.
Segundo Alves, deixar a matriz energética brasileira nas mãos de empresas privadas é acabar “com os níveis de regularidade do fornecimento e não tratar a energia como um bem público. Essas empresas tratam da energia como uma commodity”, adverte.
— Quem está adquirindo empresa de energia no Brasil são rentistas. Não empresas especializadas em fazer ampliação do setor e investimento para gerar energia com eficiência para a sociedade e as indústrias — concluiu.