A família de Flávio Carvalho Molina, militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo) preso, torturado e morto pela ditadura militar em novembro de 1971, no Doi-Codi de São Paulo, vai poder enterrar o seu filho após 34 anos. Em ato público realizado na capita paulista, nesta segunda-feira, no auditório da Procuradoria da República em São Paulo, foi entregue a urna com os restos mortais de Molina aos familiares. Em seguida, a urna foi transladada ao Rio de Janeiro, onde ocorreu o sepultamento.
Os restos mortais somente puderam ser identificados por meio de um exame de DNA, após 15 anos de tentativas frustradas. O resultado do exame foi revelado no último dia 2 de setembro. Flávio foi morto às vésperas de completar 24 anos. Militante do Molipo, deixou os estudos e a casa de seus pais em 1969 por causa da perseguição política. Ele já havia sido preso uma vez e temia que isto acontecesse novamente, ou que seus pais pudessem ser prejudicados.
De volta ao Brasil, em 1971, Flávio foi preso no Doi-Codi de SP, onde foi torturado e morto. Os repressores enterraram o corpo propositalmente com o nome falso de Álvaro Lopes Peralta, no cemitério Dom Bosco, em Perus. Posteriormente, seu corpo foi exumado e transferido para uma vala comum junto com os restos mortais de outros presos políticos, enterrados como indigentes. Em 4 setembro de 1990, a vala foi aberta e de lá foram exumadas 1.049 ossadas, entre elas a de Molina.
Unicamp
Durante 15 anos, a família de Flávio buscou confirmar através de exames de DNA a compatibilidade dos restos encontrados, pois os exames realizados pela Unicamp e pelo Instituto Médico Legal (IML) indicavam 75% de probabilidade, através da comparação da estrutura e tamanho dos ossos encontrados. Oito análises de DNA foram realizadas mas, devido ao estado de conservação precário do material, nenhum deles obteve sucesso na extração de uma seqüência de genes confiável para garantir a identificação.
No dia 10 de agosto, uma nova colheita de material foi feita, desta vez com o acompanhamento do Ministério Público Federal, da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e do Laboratório Genomic, responsável pela identificação. O resultado foi entregue no dia 2 de setembro ao irmão de Flávio Molina, Gilberto Carvalho Molina, com a informação definitiva de que as ossadas têm 99,99% de precisão garantida quanto à identificação.
Desde 1999 o Ministério Público acompanha o caso, quando instaurou procedimento administrativo para apurar os motivos que levaram à não-conclusão do exame de DNA necessário para a identificação de Flávio Molina. Por causa da investigação, o Estado transferiu a guarda dos ossos da vítima da Unicamp para o IML em São Paulo. Desde então, novas tentativas foram feitas até o exame positivo, em setembro.