Após intenso tiroteio, na madrugada deste sábado, a polícia do Rio de Janeiro matou o chefe do tráfico da Rocinha, Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-te-vi. Segundo policiais que participaram da operação, que recebeu o nome de Tróia, o traficante foi atingido após um cerco bem-sucedido ao local onde costumava se entrincheirar.
Bem-te-vi levou um tiro na cabeça e outro no tórax. Ele chegou a ser levado para o Souza Aguiar, mas não resistiu aos ferimentos. O túnel Zuzu Angel, que liga a Gávea a São Conrado, ficou fechado durante a operação e o clima ficou bastante tenso entre os moradores. O corpo de Bem-te-vi deixou o Hospital Souza Aguiar por volta das 6h30 e foi levado para o Instituto Médico Legal.
Bem-te-vi assumiu o comando do tráfico da Rocinha após a morte de Luciano Barbosa Silva, o Lulu, em abril de 2004, também durante um confronto com a polícia. Com Bem-te-vi a polícia apreendeu um bracelete de ouro e duas pistolas douradas. Seu sucessor, conhecido apenas como Soul, já teria assumido a liderança do tráfico na favela, uma das maiores da América Latina.
Velório
Presidente da Associação de Moradores de Barcelos, um dos sub-bairros da Rocinha, Sebastião José Filho acredita que a escalada da violência no local está apenas no início. Há um ambiente de consternação na favela mas, segundo o morador "não é pela morte do Bem-Te-Vi, mas pela ação policial no morro, que já vem durando mais de um ano".
- A guerra não acaba com a morte do Bem-Te-Vi, como não acabou com a morte do Lulu (Luciano Barbosa da Silva, chefe anterior do tráfico local, morto no dia 15 de abril de 2004). Essa guerra está apenas começando. E nós vamos viver dias muito piores dentro da Rocinha - disse ele.
Segundo Sebastião, as opiniões na comunidade são muito diferenciadas em relação ao tráfico. Muitos moradores gostariam de se ver livres do tráfico, enquanto outros se mostram "completamente conternados". Com a morte de Bem-te-vi, Sebastião também se preocupa com a possibilidade de entrada do tráfico de outros locais para controlar a Rocinha. "A nossa preocupação não é com a polícia, que vem e faz o trabalho que tem que fazer", diz.
- O que nos preocupa é a desestabilidade que a polícia causa dentro do tráfico de drogas, que é uma realidade - afirmou.
Sebastião também comentou a ligação de Bem-te-Vi com a comunidade local.
- Ele era praticamente nascido e criado dentro da Rocinha e oferecia solução aos problemas de todo mundo que o procurava. O que o poder público não fazia, o tráfico faz. Esconder isso é uma irrealidade - confessou.