A Justiça bloqueou os bens que o empresário e engenheiro Sérgio Naya, dono da construtora Sersan, possui no Brasil. Ele era o responsável pela construção do edifício Palace II, que desabou no Carnaval de 1998, matando seis pessoas. Cento e setenta e três famílias perderam tudo que tinham e montaram a Associação das Vítimas do Edifício Palace II.
Os bens do empresário só podem ser vendidos para pagar indenizações. Esta semana, uma denúncia revoltou as famílias que ainda não receberam nada: a pedido de Naya, um juiz do Rio de Janeiro liberou, sem o conhecimento do Ministério Público, a venda de imóveis bloqueados e R$ 100 mil da conta destinada pela Justiça às indenizações.
- Vamos postular a anulação dessa decisão de autorizar esse levantamento para que retorne ao patrimônio de Sérgio Naya tudo o que foi alienado de forma irregular - explicou o promotor de Justiça Rodrigo Terra ao programa 'Fantástico'.
- O Sérgio Naya teve o registro profissional cassado, ele era deputado federal e teve o mandato cassado também, ele foi condenado pela Justiça a pagar as indenizações às 173 famílias que residiam no Palace II. Das 173, apenas 73 receberam indenizações - revelou o promotor.
Das cem famílias que ainda não receberam, 19 conseguiram na Justiça que a construtora pagasse um hotel até o final do processo. Oswaldo e Cecília Benavide perderam, na tragédia, o filho Leonel, de 18 anos. Eles guardam tudo o que restou em nove metros quadrados.
- Dentro de casa? Como é que nós fazemos? Um num canto da cama. Vendo televisão. Indo, vindo de um lugar para o outro, sai um pouquinho... - desabafou Cecília.
- Há seis anos morando em um quarto pequenininho com três pessoas é complicado. Tem que fazer tudo dentro de um quarto: lavar, cozinhar. Então, é difícil. Espero que seja por mais pouco tempo - contou a comerciante Marinete Avanci, outra ex-moradora do Palace II.
- Eu acho que vai ser resolvido. Eu acho que com todos esses problemas que tem acontecido, acho que vai resolver. Podia arrumar este mesmo super homem que arrumaram para ele e resolver agora o nosso. Chega com essa novela - reclamou.
- A gente tenta levar uma vida normal, mas é impossível. Mas a cada momento a gente recebe uma carta como essa dizendo que a gente não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. Então, a gente até tenta, mas a gente mora num hotel - desabafou a artista plástica Leia Oliveira.
Naya também não está mais pagando o hotel. O diretor do Atlântico Sul diz que a dívida da Sersan é de mais de R$ 1 milhão. Os pagamentos são irregulares há dois anos.
- A gente está tentando fazer esta cobrança pelas vias judiciais. Porque a gente simplesmente não tem com quem falar porque a gente não pode, não há ninguém responsável pela Sersan que nos atenda, que a gente possa conversar e só restou o caminho judicial - afirmou o diretor do hotel, Secundino Lema.
Quanto ao processo de venda de imóveis bloqueados, o advogado de Naya disse que a associação tinha conhecimento das decisões judiciais. Quanto ao pagamento do hotel, ele alega que apenas seis famílias moram no hotel.
Bens de Sérgio Naya serão vendidos com autorização da Justiça
Segunda, 09 de Fevereiro de 2004 às 01:51, por: CdB