Butantan cria primeira vacina brasileira contra covid-19
Instituto ligado ao governo de SP vai solicitar autorização para início de testes clínicos da "Butanvac" nesta sexta-feira. Diretor afirma que espera ter 40 milhões de doses até o fim do ano.
Instituto ligado ao governo de SP vai solicitar autorização para início de testes clínicos da "Butanvac" nesta sexta-feira. Diretor afirma que espera ter 40 milhões de doses até o fim do ano.
Por Redação, com DW e ABr - de São Paulo/Brasília
O Instituto Butantan desenvolveu uma candidata a vacina contra a covid-19 e anunciou que deve pedir nesta sexta-feira autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar ensaios clínicos do novo imunizante em humanos. A nova vacina foi batizada de "Butanvac".
Butantan afirma que o desenvolvimento da Butanvac não altera o cronograma de vacinação da CoronaVac
Em coletiva de imprensa, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que os testes devem ser concluídos até o fim de 2021 e o instituto prevê disponibilizar 40 milhões de doses prontas da nova vacina antes da virada do ano.
A iniciativa ocorre no âmbito de um consórcio internacional liderado pelo Butantan e que conta com participação do Vietnã e Tailândia. Se tudo ocorrer como previsto, o Butantan será responsável por produzir até 85% das doses do novo imunizante.
Maior produtor de vacinas do Brasil, o Butantan espera que a Anvisa conceda em breve a autorização para o início dos testes ainda em abril. Covas destacou que o desenvolvimento do imunizante começou há um ano. O instituto deve começar em maio a produção da vacina.
– Essa vacina será integralmente produzida aqui, nós não dependeremos de nenhum insumo, da importação de nenhum insumo, é uma tecnologia que já existe. Essa tecnologia é a mesma que é usada para a produção da vacina da gripe – destacou Covas.
A tecnologia da Butanvac, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, "utiliza o vírus inativado de uma gripe aviária, chamada doença de Newcastle, como vetor para transportar para o corpo do paciente a proteína S (de spike, espícula) integral do Sars-CoV-2". A proteína S é responsável pela ligação entre o coronavírus Sars-Cov-2, causador da covid-19, e as células humanas, e, ao ser inserida sozinha no corpo, favorece uma resposta imune. Assim, a vacina utilizará a proteína da variante brasileira do vírus.
– Nós queremos que essa vacina chegue a países de renda baixa e média, porque é lá que nós precisamos combater a pandemia – disse Covas. "Temos que ter vacinas para esses países, porque é lá que nós vamos ter combater a epidemia para, globalmente, sermos bem sucedido", acrescentou.
CoronaVac
O Butantan é responsável pelo envasamento local da CoronaVac, imunizante de origem chinesa que é principal vacina contra covid-19 usada no Brasil no momento. O envasamento, que é a última etapa de produção da vacina, é feito a partir de matéria-prima importada da China.
A CoronaVac foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro ao longo do ano passado, antes de o governo federal capitular e finalmente aceitar comprar a vacina. O instituto afirma que o desenvolvimento da Butanvac não altera o cronograma de vacinação da CoronaVac.
Segundo a Folha, a Butanvac já passou por testes pré-clínicos, realizados em animais, para detectar possíveis efeitos positivos ou adversos. Caso a Anvisa conceda o aval, a nova vacina passará então pelas fases 1 e 2 de testes, nas quais são verificadas a segurança e capacidade de resposta imune. Na fase 3, com uma gama mais ampla de participantes, será verificado o nível de eficácia do imunizante. A fase 1 já teve início na Tailândia.
Cerca de 1,8 mil voluntários devem participar das fases 1 e 2 de testes. Já a última etapa prevê a participação de até 9 mil voluntários.
Covas destacou ainda que a Butanvac é uma vacina de segunda geração, sendo, provavelmente, mais eficaz do que as já em uso.
– Um grande avanço da ciência brasileira a serviço da vida – afirmou o governador paulista, João Doria, à Folha.
De acordo com um levantamento do portal G1, além da Butanvac, ao menos outras dez candidatas à vacinas contra a covid-19 estão sendo desenvolvidas por universidades públicas e institutos de pesquisa do país, entre eles, a Fiocruz, USP e UFPR.
A imunização vem caminhando a passos lentos no Brasil. Até o momento, pouco mais de 14 milhões de primeiras receberam ao menos uma dose no país, segundo levantamento do consórcio de veículos da imprensa brasileira. O número representa apenas 6,65% da população adulta.
Uso emergencial da Sputnik V
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu nesta sexta-feira um novo pedido de uso emergencial da vacina Sputnik V. O pedido foi feito pelo laboratório União Química, que representa, no Brasil, o Fundo Russo desenvolvedor do imunizante. Essa é segunda vez que o laboratório brasileiro faz essa solicitação. O pedido anterior, protocolado pela União Química no dia 15 de janeiro, será cancelado.
Prazo
Segundo a Anvisa, a triagem dos documentos presentes no pedido já começou. A conclusão da análise deve ser feita em sete dias úteis. “As primeiras 24h serão utilizadas para fazer uma triagem do processo e checar se os documentos necessários estão disponíveis. Se houver informação importante faltando, a Anvisa pode solicitar as informações adicionais ao laboratório”, explicou a agência.
O prazo de sete dias úteis não considera o tempo do processo em status de exigência técnica, que é quando o laboratório precisa responder questões técnicas feitas pela Anvisa dentro do processo.
A análise do pedido de uso emergencial é feita por uma equipe multidisciplinar, envolve especialistas das áreas de registro, monitoramento e inspeção.