O cineasta americano Taylor Hackford batalhou durante uma década e meia para encontrar financiamento para seu filme Ray, sobre a lenda do soul Ray Charles, obra de ficção baseada na vida do músico que é apontada como uma das candidatas ao Oscar.
Finalmente, um americano apaixonado pela música de Ray Charles, e que vive em Colorado, resolveu investir os 35 milhões de dólares da produção do filme. O investidor não se equivocou: o longa-metragem arrecadou US$ 65 milhões durante suas quatro primeiras semanas nos cinemas dos Estados Unidos, e o intérprete, Jamie Foxx, é mencionado candidato ao Oscar de melhor ator.
Impulsionado por este sucesso, o último disco de Ray Charles, Genius loves company, conquistou os primeiros lugares nos Estados Unidos e recebeu um prêmio de platina póstumo.
"Porque era cego, Ray Charles conseguia expressar suas emoções melhor que os outros", comentou Taylor Hackford. "Não era inibido, falava tudo, ele não tentava ser cool: era cool", disse o cineasta, que vive entre Los Angeles, Nova York e Londres ao mesmo tempo.
"Ray tinha uma raiva por dentro, mas queria provar que poderia conseguir algo mesmo sendo cego", continuou. "Ray Charles estava sozinho na escuridão, o que foi determinante para o desenvolvimento de seu gênio musical", opinou Hackford, fascinado pela história da música negra e das classes desfavorecidas nos Estados Unidos.
Além dos sucessos nas bilheterias como An Officer and a Gentleman, o cineasta realizou em 1987 um documentário sobre o músico negro Chuck Berry, um dos grandes nomes da história do rock n' roll, que despertou o interesse de um dos filhos de Ray Charles.
Taylor Hackford conheceu Ray Charles em 1987 e obteve os direitos para um filme sobre sua vida. Depois, lutou em vão durante 10 anos para convencer Hollywood a financiar a produção.
Além disso, teve de encontrar um ator que pudesse interpretar o músico, genial, intenso e torturado e encontrou Jamie Foxx, pianista desde os três anos de idade, parecido fisicamente com Charles e que, inclusive, chegou a tocar com ele.
"Ray Charles escreveu sua autobiografia, mas deu os dados sem falar do que sentia", destacou Hackford, que se reuniu muitas vezes com o músico, durante 15 anos.
Para o filme, o cineasta falou com 30 amigos mais próximo do "rei do soul", e recorreu a um escritor negro, originário do sul dos Estados Unidos, para dar autenticidade aos diálogos.
Hackford, embora seja um fervoroso admirador do músico, reconhece que seu filme "não o apresenta sempre sob um aspecto simpático".
O músico, que morreu em junho de uma doença do fígado, teve tempo de escutar uma montagem do filme ao lado do realizador, que o descrevia as seqüências.
"Ele sempre queria escutar a voz de sua mãe, personagem-chave do filme", contou. "Sim, era assim mesmo, está certo", afirmou Charles, que nasceu pobre, cego e negro na Geórgia, sul dos Estados Unidos, e morreu em junho passado, aos 73 anos.