Você talvez imagine que o acesso a Chernobyl seja proibido, que a usina nuclear tenha sido fechada ao mundo externo, encerrada dentro de uma zona de exclusão rigidamente patrulhada, depois que seu reator número 4 sofreu um acidente catastrófico em 26 de abril de 1986, lançando radiação aos quatro ventos.
Nada disso. O núcleo mortal do reator foi fechado dentro de um sarcófago de concreto e aço, mas os outros reatores continuaram a gerar eletricidade até que a usina finalmente foi fechada, dois anos atrás.
Uma equipe rotativa de cerca de 6.000 especialistas e técnicos ainda trabalha no centro científico de Chernobyl. Centenas de jornalistas, diplomatas e turistas já estiveram no local nos últimos seis anos, desde que Chernobyl foi aberto a visitantes pagantes, com a identificação de áreas seguras, não contaminadas pelas zonas "quentes", ainda altamente radiativas, que foram isoladas.
Cerca de 40 documentários foram filmados dentro da grande zona controlada que cerca Chernobyl e a vizinha cidade de Pripyat.
Agora, pela primeira vez, um filme de Hollywood ganhou acesso ao local. Trata-se do terror "Return of the Living Dead 4: Necropolis".
Apesar dos obstáculos e do custo alto, o produtor Anatoly Fradis, nascido na Ucrânia, está orgulhoso do feito. "Até dois dias antes de começarmos a rodar, ainda não estava certo se iriam nos deixar entrar, e precisei pagar mais do que o previsto no orçamento para conseguir a autorização", disse Fradis, ao lado do primeiro posto de verificação de Chernobyl.
Fradis está ansioso para começar os dois dias de filmagens no local, com o diretor Ellory Elkayem e o especialista em efeitos especiais de zumbis John Vulich, da Optic Nerve Studios.
A maior parte de "Necropolis", quarto filme de uma série em cinco partes que estão sendo rodadas em sequência, está sendo filmada no estúdio de Bucareste (Romênia), onde foi feito "Cold Mountain".
As cenas em Chernobyl, que não incluem zumbis, serão para a abertura do filme, na qual um ex-agente da CIA, hoje traidor, é visto roubando os cinco últimos recipientes existentes no mundo de gás Trioxyn, que alimenta os mortos-vivos.
"Chernobyl é um lugar assustador que se encaixou bem com nossos objetivos. Vamos filmar em vilas desertas, com equipamentos enferrujados espalhados pelo chão", diz Fradis.
O clima no distrito de Chernobyl é de um mundo pós-apocalíptico.
Mato cresce dos buracos nas paredes das casas caindo aos pedaços. Ao lado de uma estrada há um cemitério de helicópteros, carros de bombeiros e outros veículos usados na operação de limpeza da usina, em 1986. Em Pripyat, a cidade abandonada onde antigamente viviam os funcionários do reator e suas famílias, brinquedos ainda se espalham pelo chão do jardim de infância abandonado. Slogans soviéticos cobrem os muros dos sinistros edifícios residenciais de concreto.
Passear pelo local é uma experiência assustadora que deve se traduzir em uma sequência inicial perturbadora, perfeita para um filme intitulado "Necropolis".