Rio de Janeiro, 13 de Janeiro de 2025

Golpistas apostaram no plano, apesar da negativa de generais

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Segunda, 25 de Novembro de 2024 às 20:27, por: CdB

Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército — centro militar que abriga as forças conhecidas como ‘kids pretos’ —, na iminência de ser deflagrada trama golpista, chegou a procurar o general de Exército Júlio César de Arruda, em seu gabinete.

Por Redação – de Brasília

Embora os envolvidos no golpe de Estado fracassado no 8/1 tentem negar a participação no rompimento violento do Estado democrático e de Direito, tramado e levado adiante até ser interrompido pela força das instituições brasileiras, a Polícia Federal (PF) investigou e trouxe à luz da Justiça a trama articulada por militares de alta patente e aliados do governo de Jair Bolsonaro (PL). Ao todo, 55 áudios levantados no inquérito policial expõem discussões que envolveriam o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

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Comandante do Exército, general Freire Gomes também assinou a nota de teor duvidoso para a democracia brasileira

Hoje na reserva, o general de brigada Mario Fernandes, ex-sub-secretário-Geral da Presidência, aparece na coordenação da iniciativa golpista, mostrou na véspera a apuração do programa dominical da TV ‘Globo’, o ‘Fantástico’. Em áudios levantados pela reportagem o general aparece exaltado: “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”, afirmou em 4 de novembro de 2022, sem uma prova sequer do que estava alegando.

 

Desespero

Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército — centro militar que abriga as forças conhecidas como ‘kids pretos’ —, na iminência de ser deflagrada trama golpista, chegou a procurar o general de Exército Júlio César de Arruda, em seu gabinete no Quartel-General do Exército (QGEx), em Brasília, no final de 2022. Sua missão era pressionar o amigo a impedir a posse de Lula e participar do golpe de Estado; além de garantir a permanência de seu grupo político no poder.

No dia 28 de dezembro de 2022, quando Arruda chefiava o Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército, Mário Fernandes chegou à sala do general acompanhado por dois coronéis da reserva, ambos também oriundos das Forças Especiais (FE). Arruda assumiria o comando do Exército dois dias depois. O futuro comandante e Mário eram amigos. Arruda chamava Mário de “32″, uma referência ao número do subordinado no curso de operações especiais, conforme apurou o jornalista Marcelo Godoy, colunista do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP).

 

Ditadura

“Depois de criticar o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, que não embarcara, dias antes, na ideia de golpe defendida por alguns militares – e que incluía ainda um plano para matar Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – Mário foi direto com Arruda”, descreve Godoy.

— O senhor vai assumir o comando depois de amanhã. O senhor tem de fazer alguma coisa! — insistiu Fernandes.

Naquele momento, o plano que tem o ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro à frente, conforme aponta o relatório da PF, começou a fazer água. Além do comandante Freire Gomes, os principais generais na ativa queriam distância daquela tentativa atrapalhada de retomar a ditadura, no Brasil. De pronto, Arruda expulsou Fernandes e os dois coronéis de seu gabinete com uma ordem expressa: que não voltassem mais ali enquanto ele fosse o comandante.

Segundo apurou a PF, por fim, parte do grupo de militares que liderou a intentona golpista era da turma de 2000 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), a mesma do tenente-coronel Mauro César Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Juntos, de acordo com o relatório da PF, cometeram uma série de crimes a fim de manter a execução do plano: usaram identidades falsas, inseriram dados falsos em bancos de dados, apropriaram-se de viaturas e fundos públicos para fins privados; além de ter constituído uma organização para praticá-los, na qual cada um tinha tarefas determinadas e papéis definidos.

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