A bandeira da Alemanha nazista foi levantada em Atenas, durante a ocupação
A memória dos mais de 250 mil gregos mortos, durante a ocupação nazista na II Guerra Mundial, soterrada por mais de sete décadas sob os escombros da terra arrasada em que se transformou o país, é agora resgatada pela nova geração comunista do Syriza, partido do primeiro ministro Alexis Tsipras. Forçado a conceder empréstimos colossais aos alemães, durante o regime de Adolf Hitler, o Banco Central grego agora faz as contas do prejuízo e está pronto a mandar a fatura para a premiê alemã, Angela Merkel. Berlim, no entanto, já sinaliza que não quer receber a conta de um passado de violência e injustiças. O assunto, para os germânicos, já estaria resolvido.
– Não vamos ter qualquer tipo de negociação com os gregos sobre esse assunto – deixou claro Martin Jäger, porta-voz do Ministério alemão das Finanças.
O governo alemão alega que já saldou sua dívida, com o pagamento de 115 milhões de marcos à Grécia, segundo acordos assinados com diversos países europeus em 1960. Além disso, segundo Jäger, houve um "amplo sistema de diretrizes de indenização", que também beneficiou Atenas. Mas, para a Grécia, que se lembra com clareza de massacres como o de Kalavryta, no qual 500 pessoas foram mortas por carrascos nazistas, o assunto está longe de ser esquecido.
No Acordo de Londres sobre a Dívida Alemã, assinado pela Alemanha Ocidental na década de 1950 com antigos adversários de guerra, decidiu-se que o cancelamento final das dívidas de guerra alemãs ficaria reservado a um acordo de paz. No início dos anos 1990, explica Battis, o lado alemão recusou-se a assinar um acordo de paz. Em vez disso, ele foi chamado de Tratado Dois-Mais-Quatro – no qual as potências aliadas reconheciam a soberania alemã e eram acertadas as condições para a Reunificação. Daí resultou a posição alemã: "Como não existe acordo de paz, vocês não recebem dinheiro". A Grécia discute, no momento, a compensação pela morte de 218 civis em Distomo, em 1944.
Dívida pública
Aparentemente, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, referiu-se justamente a isso ao dizer perante o Parlamento em Atenas que os governos alemães teriam se esquivado das indenizações "com truques jurídicos".
– Não se pode descartar certa legitimidade das exigências – diz Battis.
Ele rejeita, no entanto, a acusação de que a Alemanha se esquiva das reivindicações por meio de manobras jurídicas:
– Todas as partes envolvidas assinaram. Nós não ditamos nada a ninguém.
Embora Tsipras não tenha mencionado quantia, o jornal grego To Vima noticiou no último domingo, citando um estudo classificado como ultrassecreto, que o total das exigências de indenizações por crimes de guerra – ou seja, não somente dos empréstimos compulsórios – chegaria a 300 bilhões de euros. Coincidência ou não, essa quantia corresponde exatamente ao valor da dívida pública grega. Em outras palavras, se a Alemanha decidisse pagar as reivindicações na íntegra – o que não deve ser o caso – a Grécia poderia quitar de uma vez só todos os seus débitos.
Confisco
Para fazer valer suas reivindicações, o ministro da Justiça grego, Nicos Paraskevopoulos, acena até com o confisco de propriedades alemãs. Isso se aplicaria, por exemplo, ao Instituto Goethe ou ao Instituto Arqueológico Alemão. O porta-voz do governo em Berlim, Steffen Seibert, se recusou a fazer qualquer comentário. O alemão Alexander Lambsdorff, eurodeputado pelo Partido Liberal Democrático (FDP), classificou a ideia de "ilegal" e criticou a Justiça grega por se "deixar levar por uma campanha política". Para ele, todas as dívidas estão pagas. Battis lembra que a ameaça do ministro Paraskevopoulos também não é nova.
– Há alguns anos, um oficial de justiça fez a medição de todas as salas do Instituto Goethe em Atenas, a fim de realizar o confisco – recorda o jurista.
No entanto, de acordo com a legislação em vigor e com base em decisões jurídicas existentes, um confisco é proibido. Também naquela ocasião o oficial de justiça não executou a apreensão, porque a Grécia perdeu o processo. Quanto às reivindicações provenientes dos empréstimos forçados de Atenas aos nazistas, o governo grego possui em Annette Groth, deputada federal alemã pelo partido A Esquerda, uma defensora de seus interesses.
– O governo em Berlim deveria encontrar uma solução junto ao governo grego sobre como os 11 bilhões de euros podem ser amortizados – disse a deputada, em entrevista à agência inglesa de notícias Reuters.
A quantia de 11 bilhões de euros foi calculada pelo governo grego anterior, do democrata-cristão Antonis Samaras. Groth diz concordar com a proposta do ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, de que o dinheiro pode servir para criar um banco de desenvolvimento, segundo o modelo do Banco Alemão para a Reconstrução (KfW, na sigla em alemão).
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