Na ocasião, um pescador relatou ser da mesma "equipe" que matou Bruno e Dom e prometeu assassinar todos os líderes indígenas que se opõem à presença dos invasores. Eles estão organizados em quadrilhas armadas.
Por Redação, com BdF - de Manaus
A Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) denunciou nesta semana mais um ataque violento a indígenas do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados em junho desde ano. A Akavaja, que integra a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), descreveu em nota um episódio de terror no qual uma liderança indígena mulher é ameaçada de morte sob a mira de uma arma, na frente de um grupo composto por adultos e crianças, que navegava pelo rio Itacoaí.
Integrante da Univaja denuncia que assassinos de Dom e Phillips, no Vale do Javari, ainda estão ativos
Na ocasião, um pescador relatou ser da mesma "equipe" que matou Bruno e Dom e prometeu assassinar todos os líderes indígenas que se opõem à presença dos invasores. Eles estão organizados em quadrilhas armadas.
O alerta vem do Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), organização fundada por Bruno Pereira. A entidade diz que o risco de novas mortes é concreto e denuncia que a prisão dos autores das mortes de Bruno e Dom não foi suficiente para por fim à violência.
Situação
"A situação vivida pelos Kanamari demonstra que as investigações dos assassinatos de Bruno e Dom não podem ser consideradas encerradas enquanto a organização criminosa que participou dos crimes permanecer atuando na região", escreveu o Opi.
No comunicado, os Kanamari questionam: "essa situação foi mais uma que aconteceu aqui, mesmo após os terríveis assassinatos de nossos irmãos e parceiros, Bruno e Dom, nada mudou e nos perguntamos: quantos dos nossos iremos perder nesta guerra?".
No dia 9 de novembro, por volta de 9h30, cerca de 30 indígenas Kanamari, a maioria crianças e mulheres, voltavam da aldeia Massapê, onde organizavam o encontro de lideranças da Univaja, quando uma das embarcações foi interceptada por barcos cheios de pescadores ilegais.
Crianças
Armados, eles tentaram comprar o silêncio das lideranças, oferecendo em troca tracajás - uma espécie de tartaruga - de origem ilegal. Uma liderança Kanamari mulher interveio e questionou por que o grupo insistia em saquear os recursos ilegais de usufruto exclusivo dos indígenas.
Com uma arma apontada para o peito, a líder Kanamari ouviu de um pescador que as mortes no Vale do Javari não iriam cessar até que todas as lideranças fossem assassinadas. E que ela, uma das principais líderes do seu povo, estava marcada para morrer.
"Vou tirar a máscara para você ver meu rosto e te avisar que é por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe. E você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças", disse o agressor, segundo carta divulgada pela Akavaja.
Invasores
Ao deixar o local, os invasores cortaram a fiação de um dos motores dos barcos ocupados pelos indígenas. Na sequência, dispararam contra as canoas dos Kanamari, perfurando um dos tambores de gasolina levados pela embarcação.
A associação dos Kanamari afirma que viver sob a mira dos invasores virou rotina e diz temer também pela segurança dos indígenas isolados, aqueles que têm contatos pouco significativos ou frequentes com a sociedade não indígena.
O povo indígena encerra o comunicado dizendo que "esta carta é um pedido de ajuda. Queremos ajuda, pois queremos viver. Toda a vida que habita a floresta é importante e defenderemos nossos irmãos e irmãs sempre. Seguiremos fortes até o fim”.