Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 2025

Locarno: mãe adotiva do lobisomem melhor atriz?

Por Rui Martins - Isabel Zuaa é forte concorrente ao prêmio de melhor atriz da competição internacional do Festival de Locarno. Ela é portuguesa, de pais angolano e guineense, atriz principal do filme brasileiro As Boas Maneiras. Isabel já foi atriz do filme brasileiro Joaquim (Tiradentes) e, no filme de Juliana Rojas com Marco Dutra, faz o papel de mãe adotiva do lobisomem.

Terça, 08 de Agosto de 2017 às 12:00, por: CdB

Isabel Zuaa é forte concorrente ao prêmio de melhor atriz da competição internacional do Festival de Locarno. Ela é portuguesa, de pais angolano e guineense, atriz principal do filme brasileiro As Boas Maneiras. Isabel já foi atriz do filme brasileiro Joaquim (Tiradentes) e, no filme de Juliana Rojas com Marco Dutra, faz o papel de mãe adotiva do lobisomem.

Por Rui Martins, do Festival Internacional de Cinema de Locarno

isabel-zuaa.jpg
O forte do filme As Boas Maneiras é a atriz Isabel Zuaa

Por enquanto, com metade dos filmes exibidos, só vejo duas fortes concorrentes ao premio Leopardo Melhor Atriz,  a alemã Johanna Wokalek, no filme Freiheit, Liberdade, filme alemão um dos favoritos ao Leopardo de Ouro; e a portuguesa de pais angolano e guineense, Isabel Zuaa,  mãe adotiva do lobisomem paulistano, no filme As Boas Maneiras. Além de feminista, ela é militante com a brasileira Yasmin Thainé, em favor das mulheres negras no Brasil e em todo mundo. Seu novo projeto é a Pietá Negra, como ela nos conta na entrevista exclusiva que se segue.

Entrevista exclusiva com Isabel Zuaa -
Rui Martins - Vamos começar com sua participação no filme As Boas Maneiras...

Isabel Zuaa - Tenho certeza de que sou uma menina de muita sorte. O Brasil tem me dado a oportunidade de integrar filmes muitos especiais e de ajudar minha trajetória humana e artística também.Chegar no filme da Juliana e do Marco foi um acaso muito feliz, porque a protagonista seria a Camila Pitanga mas ela teve de fazer um outro trabalho e abriram um teste. E eu respondi a esse este pela Internet e fui pra São Paulo porque morei sete anos no Rio de Janeiro.
E quando cheguei lá, senti, ao ler o roteiro e a sinopse, ficar muito interessada porque era a primeira vez que ia fazer um filme de gênero, de terror e homoafetivo, que falava de modo muito sutil das questões da solidão da mulher negra, porque Clara é uma mulher negra solitária que se refugia no seu trabalho para conseguir uma vida melhor e  acaba se envolvendo com a sua patroa que, hierarquicamente já tem problemas, e além disso branca mais todas as coias que estão por tràs. Eu acho que a trajetória da Clara nesse filme, apesar de complexa, é simples e vai fluindo através do amor e do afeto, e ela vai sendo afetada por toda aquela história vai tomando conta dela e ela vai servindo a história. É uma forma muito humilde de um personagem transitar pela história e servir a história. Isso para mim foi muito interessante, assim como a parte musical, onde você tem a música que não vem da Broadway, por exemplo, como referência. O musical te traz o afeto e as relações da história.
Em relação à minha trajetória, este ano tive o privégio de estar em Roterdão com o filme O Kbela, que fala sobre a mulher negra protagonista e imponderada. Participei desse filme da Yasmin Thainá, (https://revistacult.uol.com.br/home/kbela-o-filme-de-yasmin-thayna/) uma cineasta, jovem, negra, brasileira, que está fazendo uma história muito bonita, que criou Afroflix (http://revistatrip.uol.com.br/tpm/entrevista-com-a-cineasta-negra-yasmin-thayna-do-afroflix). E depois em Berlim, participei no filme sobre Tiradentes, o Joaquim, de Marcelo gomes, onde tenho o personagem de uma mulher negra estratega, que impulsiona o Tiradentes para ter um olhar mais crítico
pela situação que ele vive. Uma mulher negra que se tornar lider quilombola. Para mim foi um desafio doloroso de humildade mas também prazeroso por colocar a mulher negra nessa perspectiva.

Rui Martins - Você falou na reção homoafetiva nas Boas Maneiras e, realmente, essa relação vai criar uma das cenas mais bonitas que é sua relação com a Clara. fale um pouco dessa cena.

Isabel Zuaa - Essa cena foi muito delicada sim, mas ela fluiu. A gente só ensaiou para entender como seria a questão da barriga e curiosamengte tive uma amiga muito próxima que passou por uma situação muito parecida. Grávida de um ex-companheiro se relaciona durante a gravidez com outra mulher. Então de alguma forma foi louvar essas mulheres que decidem mudar sua vida mesmo na sua fase de gestação, tendo uma relação tão bonita e tão poética como outra mulher. Foi uma cena muito feliz com a qual se emocionou toda a equipe durante a gravação.

Rui Martins - Você é portuguesa de origem angolana e guineense por seus pais, teve ótima formação em cinema,  fez também literatura?

Isabel Zuaa - Não, minha formação foi em Portugal, na escola Chapiteau Circo e Teatro e depois no Conservatório e o intercâmbio de um ano na UniRio de Artes Cênicas, mas a literatura, não só africana como européia me encanta, e tenho o prazer de poder conhecer e circular por esse mundo afora, conhecendo esses cruzamento literários e culturais do mundo.

Rui Martins - E para terminar, você tem alguns projetos?

Isabel Zuaa - Sim, terminei agora o filme do Felipe Bragança, Um Animal Amarelo, gravamos em Lisboa e Moçambique, na Beira e no Chimoio, e vão dar agora continuidade à gravação no Rio de Janeiro. Tenho uns projetos no Brasil, na TV Cultura, estrei numa série estes dias, com o nome de Rarefeito. Há outras coisas que vão estrear mas tenho projeto pessoais comoa Pietá Preta ou Black Pietá, onde faço referência à mulher africana na sua diáspora pelo mundo, que ela é nossa Pietá contemporânea. Ela carrega os corpos mortos de seus filhos, pai, marido, avós por esse mundo afora, sacrificados não só no Brasil mas em todo mundo. Então, tenho vários projetos, que crio, vou fazendo e estou aí para aprender, para trocar, para compartilhar.

Rui Martins está em Locarno convidado pelo Festival Internacional de Cinema.

Tags:
Edições digital e impressa