Rio de Janeiro, 14 de Dezembro de 2025

Lula convida Líbia a investir no Brasil

Quinta, 11 de Dezembro de 2003 às 07:52, por: CdB

O jantar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve com o coronel Muamar Kadafi, presidente da Líbia, na noite de terça-feira, foi um reencontro de velhos amigos. Kadafi levou ao " amigo e líder " Lula fotos tiradas em 1982, quando o então presidente do PT e seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, estiveram em Tripoli num encontro com o líder sandinista e ex-presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, o ex-presidente da Argélia, Ahmed Ben Bella, Yasser Arafat, líder da Palestina. No jantar de ante-ontem, no palácio presidencial Bab Aziziya, estavam Ortega e Ben Bella. Indagado sobre a presença de ambos, o ministro Celso Amorim, das Relações exteriores, comentou: " nós não controlamos os convidados de outros países " .

Lula começou o seu discurso, durante o jantar, referindo-se ao " companheiro e amigo da Líbia, Muamar Kadafi " e recordando que há pouco mais de vinte anos " vivi, aqui na Líbia, um dos momentos mais importantes da minha vida " . Citou, nominalmente, todos os que estavam naquele encontro, " numa reunião muito importante onde tive bons ensinamentos " .

Vestido com a faixa da condecoração mais elevada do governo líbio, a de Al Fateh (nome da revolução), Lula prosseguiu: " Assumi muitos compromissos políticos ao longo dessa trajetória. Fizemos alguns adversários e muito mais amigos. Hoje, como presidente da República do Brasil, jamais esqueci os que eram amigos quando eu não era presidente da República " . Hoje, " sei dos compromissos que tenho com meu país e sei dos compromissos que temos com outros povos do mundo " .

Contudo, continuou o presidente, " só vamos poder ajudar os outros se tivermos construído em nossa casa uma base sólida de segurança, para ganhar respeitabilidade de outros povos " . Lula, dirigindo-se a Kadafi, disse também: " ainda temos muito o que fazer para construir um mundo mais justo, mais solidário, onde se viva em paz " e prometeu que " enquanto eu tiver em pé, o meu cérebro funcionar e o meu coração bater, estarei lutando " por isso. E disse que gostaria de ver o presidente líbio " cruzar o Atlântico " para participar da reunião de Cúpula dos países árabes e da América do Sul.

Kadafi mostrou-se cético com possíveis resultados desse encontro, que deverá ocorrer entre os dias 15 e 20 de setembro. Disse que o mundo árabe-islâmico está dividido em três blocos - o da África, do Golfo Pérsico e o Asiático - e melhor seria uma integração Sul-Sul através da parte africana, sob a qual ele tem a pretensão de vir a liderar. Lula contestou o ceticismo de Kadafi e disse: " não queremos exercer hegemonia. Queremos parcerias " . Ainda durante o jantar, segundo relato de vários ministros brasileiros presentes, Lula disse ao seu colega líbio: " amanhã vamos discutir economia e política ? .

Ontem, antes de se reunir novamente com Kadafi, o presidente depositou flores no Memorial da batalha de El Hani, que ocorreu em 1969, quando o coronel Kadafi derrubou o regime monárquico e se instalou no poder. Fora da programação, Lula foi levado a uma visita ao túmulo do pai de Kadafi. Antes de sair do hotel Corinthia Bab-África, pela manhã, e escaldado pelas confusões da noite anterior, quando parte da comitiva se perdeu e os parlamentares só foram chamados ao jantar presidencial após este ter começado, Lula recomendou ao chefe do cerimonial, embaixador Paulo Campos: " Vamos fazer tudo direitinho, para ninguém se perder " . Diante da rudeza da segurança de Kadafi, com quem os diplomatas brasileiros sequer conseguiam se entender por causa da barreira da língua, pouco se podia fazer.

Antes de embarcar de volta ao Brasil, Lula voltou ao palácio Bab-Aziziya para uma reunião com Kadafi, numa tenda militar, ao lado de outras tendas, casamatas e barricadas que foram o conjunto onde está também o palácio. Nesta, Kadafi com uma caneta laser mostrou, no mapa, como vê a distribuição de blocos comerciais e políticos no mundo. Lula falou sobre a política externa

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