Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2025

O Jornalismo no Brasil em 2026

Explore como o jornalismo local e a colaboração podem restaurar a credibilidade e fortalecer a democracia no Brasil em 2026, ano de eleições.

Sábado, 27 de Dezembro de 2025 às 11:26, por: Rui Martins

Em 2026, ano de eleições no Brasil, o jornalismo deverá estar atento para não se enredar em circuitos digitais que alimentam o extremismo político. Para isso, precisará fugir da aceleração temporal que caracteriza a economia da atenção e intensifica os acontecimentos. Isso aponta para a necessidade de refletir sobre as próprias práticas para deixar de operar sob um estado “social de crise”.Se, por um lado, esta lógica alimenta as engrenagens de um sistema informacional que ainda sustenta veículos de notícias, por outro, favorece a comunicação da extrema direita, cuja estratégia de corrosão da democracia liberal ameaça a própria existência do jornalismo como ator social. Não será fácil.

Por Moreno Cruz Osório, jornalista, professor de jornalismo, doutor em Comunicação
O Jornalismo no Brasil em 2026 | Como será o jornalismo no ano que vem, ano de eleições?
Como será o jornalismo no ano que vem, ano de eleições?

Boa parte do jornalismo está presa a plataformas cuja manutenção do sucesso financeiro depende da maximização exponencial das piores características da economia da atenção. O resultado é a deterioração do ecossistema de informação até o ponto em que a verdade já não importa – o que importa é o imediato e o espetacular. Em 2026, o avanço da inteligência artificial generativa tende a acelerar esse processo, dada sua capacidade de produzir desinformação mais facilmente, gerando discursos coesos e corretos sob o ponto de vista lógico e ortográfico, mas não necessariamente reais.

Ameaçado por projetos de poder que fragilizam as instituições democráticas e operando sob uma lógica que muitas vezes mina sua própria credibilidade, o jornalismo assistirá a um recrudescimento dos ataques a seus profissionais – depois de uma diminuição dos casos de violência observada a partir de 2023 com o terceiro governo Lula e a normalização das relações entre imprensa e poder. No ano que vem, especialmente na cobertura eleitoral, Estado, sociedade civil, veículos e plataformas deverão trabalhar juntos para garantir a segurança que fundamenta a liberdade de imprensa.

Mas ações pontuais, embora essenciais, não vão, sozinhas, restabelecer o respeito à profissão. Diante de um cenário de incerteza em relação aos modelos de financiamento, de dependência das plataformas e de fragmentação da audiência, apenas a colaboração radical e o jornalismo local serão capazes de apontar caminhos para a profissão em 2026. Enquanto o segundo oferece uma oportunidade para o jornalismo restabelecer vínculos de confiança com as pessoas no seu dia a dia, a colaboração entre diferentes atores jornalísticos é uma forma de combater um problema estrutural.

Colaborar de forma radical significa não encarar a atuação conjunta de forma episódica ou protocolar. Em 2026, veículos e entidades do setor vão precisar compartilhar dados e traçar estratégias conjuntas para as disputas de regulação e de compensação econômica junto às plataformas. Só assim serão capazes não só de lutar por seus direitos junto às Big Techs, mas também de abrir caminho para políticas públicas que garantam a sustentabilidade de uma prática fundamental para o presente e o futuro da profissão: o jornalismo local.

O próximo ano deixará claro que o jornalismo realizado junto às comunidades é parte fundamental da infraestrutura que sustenta a democracia. Mais do que isso. O jornalismo local será o caminho para o restabelecimento de laços sociais capazes de devolver a credibilidade por meio da presença offline, do compromisso e do acolhimento. Em 2026, precisaremos não apenas voltar às ruas, mas também fazer da proximidade um método de trabalho: conhecer as comunidades, contar suas histórias, fiscalizar políticas públicas.

O exemplo vem das bordas. Distante das lógicas que regem os grandes centros econômicos, o jornalismo local e periférico conhece o seu público, produz dados e expõe realidades muitas vezes ignoradas pelo Estado – e por outros meios de comunicação. Enquanto isso, na floresta, indígenas jornalistas subvertem a lógica individualista, colocando o território e a cultura à frente da profissão para produzir narrativas a serviço do coletivo e oferecendo ferramentas discursivas para cobrir temas complexos, como a crise climática.

Em 2026, para afirmar sua importância a uma sociedade imersa em um ambiente informacional acelerado e marcado por circuitos recursivos que favorecem o extremismo, o jornalismo precisará pisar no freio. Encontrar um novo ritmo vai depender menos de acordos individuais com as plataformas de IA generativa e mais de assumir uma postura ancestral, a exemplo da postura dos profissionais indígenas, em que a colaboração se sobrepõe à competição e em que a conversa olho no olho volta a ganhar mais importância do que as comunicações mediadas pelas tecnologias.

Essas questões estão contempladas nas projeções assinadas pelos autores e autoras convidados por Farol Jornalismo e Abraji para esta edição d’O jornalismo no Brasil, especial que há 10 anos reúne jornalistas e pesquisadores para refletirem sobre o que esperar do jornalismo no ano que se aproxima.

As projeções para 2026 são de Ana Carolina Araújo, José Kaeté, Larissa Noguchi, Daniel Nardin, Juliana Lourenço (Nidéwãna), Fernanda Lara, Anderson Menezes, Letícia Cesarino, Ester Borges, Cristina Zahar e Vinícius Valfré.  Leia e reflita sobre as ideias de cada um deles. Compartilhe com amigos e colegas. Vamos pensar juntos o jornalismo de 2026! Os artigos estão neste link – https://faroljornalismo.substack.com/p/colaboracao-e-jornalismo-local-sao

A série O Jornalismo no Brasil em 2026, produzido por Farol Jornalismo e Abraji, conta com o apoio do Projor. (Publicado originalmeente no Observatório da Imprensa)

Por Moreno Cruz Osório, professor de jornalismo, doutor em comunicação.

Direto da Redação é um fórum de debates editado no jornal Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.

Edições digital e impressa