Mais do que uma franquia, a série de filmes O Exorcista é uma liquidação permanente, do tipo queima geral de estoque. Hoje já existem quatro filmes oficiais da marca, além das várias imitações.
É verdade que o primeiro O Exorcista (1973), com roteiro de William Peter Blatty e direção de William Friedkin, foi um dos filmes mais assustadores da história do cinema. Ele mostrava o confronto entre o homem e o mal verdadeiro. No enredo não existia monstros, múmias, mortos-vivos ou fantasmas do tipo que povoam a maioria dos filmes de horror corriqueiros.
Infelizmente, desde então o público vem sendo atraído para o cinema para ver as bobagens de horror costumeiras, apresentadas enganosamente sob o rótulo de O Exorcista. E O Exorcista -- O Início, que estréia nesta sexta-feira, não escapa dessa sina.
O que mais assusta neste filme é o desespero de seus criadores para arrancar gritos de susto da platéia. Deixando entrever que não sentiam confiança na premissa básica da história, o diretor Renny Harlin e os roteiristas Alexi Hawley, William Wisher Jr. e Caleb Carr experimentam praticamente todos os chavões que lhes vêm à cabeça.
Desde a sequência de abertura sem sentido, repleta de pernas e braços decepados e crucifixos de ponta-cabeça num campo de batalha, o filme passeia por furúnculos em rostos, sanguessugas, larvas comendo o cadáver de um bebê natimorto, sangue esguichando, moscas zumbindo, dois suicídios, um pássaro que arranca um olho humano e hienas enlouquecidas dilacerando o corpo de um garotinho.
Quando nada disso funciona mais, eles incluem uma cena de chuveiro e uma tempestade de areia.
Este foi o filme que levou a produtora Morgan Creek a criar duas versões distintas. Paul Schrader rodou e chegou a concluir uma versão editada de seu O Início em maio de 2003.
Quando o presidente da Morgan Creek, James Robinson, rejeitou o filme, Schrader abandonou o projeto e a produtora convocou Renny Harlin para a direção. Ao que consta, o filme de Harlin não contém praticamente nada da versão de Schrader.
Como o filme lamentável de John Boorman O Exorcista 2 -- O Herege, também este Exorcista volta atrás no tempo para nos mostrar o primeiro confronto entre o padre Merrin, o velho exorcista do filme original, e o demônio, num incidente que ocorre na África nos tempos coloniais britânicos e ao qual fazem alusão o filme de Friedkin e o romance best-seller de Blatty.
Stellan Skarsgard, presente tanto no filme de Schrader quanto no de Harlin, representa Merrin como um ex-padre desiludido que percorre o Cairo em 1949 envolto numa névoa alcoólica.
Um misterioso colecionador de antiguidades (Ben Cross) convida-o a participar de uma escavação arqueológica numa região distante do Quênia, onde as autoridades britânicas descobriram uma igreja cristã bizantina enterrada num lugar onde não deveria existir igreja alguma dessa época.
Merrin chega ao local e descobre que pessoas estão desaparecendo, hienas enlouquecidas rondam o local e os moradores da aldeia acreditam que uma força malévola habita a igreja.
Ele é acompanhado por um padre jovem e cheio de entusiasmo (James D'Arcy) cuja crença em Deus é tamanha que percebemos imediatamente que ele está fadado a morrer. Merrin acha que tem mais em comum com a dra. Sarah Novack (Izabella Scorupco), uma daquelas almas altruístas que conseguem fazer boas ações sem nunca desarrumar seus cabelos ou borrar a maquiagem perfeita. Tanto Merrin quanto Sarah têm algo em comum: um passado ligado ao Holocausto.
Ela é sobrevivente de um campo de concentração. Ele abandonou a Igreja depois de assistir a atrocidades cometidas pelos nazistas em seu país natal, a Holanda.
O resto do filme é composto por pesadelos, fatos estranhos que acontecem no playground do demônio e as mortes pavorosas de diversos personagens. A trilha sonora é mais assustadora do que as hienas, já que cada som é ampliado e a música coral sinistra não