Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2025

Preconceito racial é tema em peça de Nelson Rodrigues

Quinta, 18 de Agosto de 2005 às 13:29, por: CdB

A peça teatral Anjo Negro, em cartaz no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, é uma tragédia romântica que aborda o polêmico tema do preconceito racial, escrita em 1946, por Nelson Rodrigues.

 

O espetáculo, que esteve sob censura durante dois anos, narra a polêmica vida de Ismael, um homem negro inconformado com sua cor, e de sua mulher branca, Virgínia, que não aceita os filhos mestiços gerados na relação.

 

Tomada pelo louco desejo de ser mãe de um filho branco, a personagem comete adultério com Elias, o irmão de criação branco.

 

Desse breve envolvimento nasce afinal uma criança, branca como a neve, para a felicidade da mãe. Mas o nascimento é apenas o desencadeador de novas tragédias.

 

O autor costumava afirmar que a encenação já tinha nascido com ele. Com a idéia central de que todo brasileiro tem preconceito contra negros, a "catástrofe em três atos" era para ter sido sua segunda peça. Logo após A Mulher Sem Pecado.

 

Em seguida veio Valsa n° 6, peça inadiável devido ao enorme sucesso do monólogo As mãos de Eurídice. Quando a história da personagem anterior foi censurada, Nelson decidiu se sentar para escrever seu grande projeto, Anjo Negro.

 

Rodrigues decidiu trocar a relação sexual ilícita entre parentes, presente antes na peça mítica, pelo preconceito racial.

 

Entretanto, a função da narrativa não é sociológica. O escritor não buscava ter o dom da palavra racional nem era chegado em levantar bandeiras políticas.

 

Sua idéia era mostrar um afro-descendente que, por desprezo de sua raça, enclausura-se dentro de casa com uma mulher preconceituosa, que por sua vez, é casada com ele à força.

 

A trajetória de vida do casal é complicada e segue o estilo rodrigueano de olhar o passado. Já que Ismael foi embora da casa da mãe após discussão, em que a culpava por ser negro.

 

Virgínia, órfã de pai e mãe, foi criada pela tia junto com três primas. Roubou o namorado da prima mais nova e foi flagrada pela menina e a tia num beijo. Para se vingar, a tia entrega ela ao negro Ismael, que a estupra e depois se casa com ela.

 

Com esse passado, o matrimônio não poderia ser simples. Ela nutre um misto de amor e ódio pelo companheiro e tem verdadeiro pavor da mestiçagem.

 

A atmosfera é densa, todos ali estão em contato com o preconceito. Ninguém pode se aproximar da casa de muros altos nem sair para a rua. A esposa mata um a um os filhos que nascem, afogando-os num

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