Os advogados presos trabalhavam no escritório de advocacia Mossack Fonseca, que atuava pela Globo. Eles foram detidos por suspeita de lavagem de dinheiro ligada à Operação Lava Jato
Por Redação, com Reuters - de Cidade do Panamá e Rio de Janeiro
A prisão de quatro advogados, neste sábado, por ordem da procuradoria da República panamenha atinge, em cheio, as Organizações Globo. Líder do cartel da mídia conservadora, no Brasil, a empresa que gerencia a TV Globo e uma série de jornais, revistas e retransmissoras, no país, passa a ser observada, ainda mais de perto, pela Polícia Internacional (Interpol, na sigla em inglês).
Os advogados presos trabalhavam no escritório de advocacia Mossack Fonseca. Eles foram detidos por suspeita de lavagem de dinheiro ligada à Operação Lava Jato. Os principais sócios da banca advocatícia, Ramón Fonseca e Jürgen Mossack, foram denunciados no caso conhecido como Panama Papers, em que a Globo também e citada. Ambos, juntos com dois outros colaboradores, foram detidos depois de dois dias de interrogatórios. A ordem de prisão inclui uma quarta advogada que não fora localizada.
"Informação identifica a empresa panamenha supostamente como uma organização criminal que se dedica a ocultar ativos ou dinheiro de origem suspeita", disse a procuradora-geral da República, Kenia Porcell. Os advogados cumprem prisão preventiva para evitar que, durante o processo de investigação, fujam do país.
Odebrecht
Kenia Porcell acrescentou que a investigação, que durou um ano e levou ao pedido de prisão, contou com ajuda de procuradores de Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Suíça e Estados Unidos. O escritório Mossack Fonseca está no centro o escândalo conhecido como Panama Papers, que envolve milhões de documentos roubados da empresa e vazados pela mídia em abril do ano passado.
Na quinta-feira, promotores fizeram buscas nos escritórios do Mossack Fonseca atrás de provas, e as casas dos fundadores da empresa foram revistadas na sexta-feira. Fonseca, ex-assessor presidencial no Panamá, negou anteriormente que a empresa tenha qualquer ligação com a Odebrecht. Na delação premiada, no Brasil, executivos da empreiteira admitiram o pagamento de propina no Panamá e em outros países para obter contratos governamentais na região entre 2010 e 2014.
— Esta investigação, em princípio, não está relacionada à Odebrecht, mas ao caso Lava Jato — disse a procuradora.
Fonseca também negou qualquer relação com a Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção no Brasil, mas se calou diante das acusações de envolvimento com a Globo. O advogado Elías Solano, que defende o Mossack Fonseca, disse que buscará a "nulidade do material probatório", já que a defesa considera que as acusações para a ordem de prisão são "fracas".
Bem tratados
No Brasil, diferentemente do Panamá, os representantes da Mossack Fonseca foram bem tratados quando presos pela Polícia Federal. No ano passado, o juiz Sérgio Moro, que recebeu prêmios e agrados editoriais nos meios de comunicação das Organizações Globo, foi brevíssimo. Ao contrário de outros presos, eles não amargaram longos períodos na cadeia. Sequer tiveram os pedidos de prisões temporárias convertidos em detenções preventivas, cuja suspensão fica a critério da Justiça. Foram soltos em tempo recorde, menos de dez dias após a operação. Entre os libertados encontrava-se o principal representante da companhia no Brasil, Ricardo Honório Neto.
O executivo trabalha na Mossack Fonseca há dez anos e é bem relacionado, com contatos na própria Polícia Federal. Em 2007, um e-mail interceptado prova que Honório Neto havia sido informado a respeito de uma operação da PF, no escritório da empresa.
A eclosão do escândalo internacional que envolve diretamente a empresa panamenha, causou constrangimentos na força-tarefa da Lava Jato. Os investigadores sabem que serão cobrados por causa do “desinteresse” em relação às atividades da Mossack Fonseca. Abordado por jornalistas, o juiz Moro preferiu não comentar sobre o tratamento diferenciado aos funcionário do escritório de advocacia, no Brasil.
Crime ambiental
Entre os documentos apreendidos durante a Operação Triplo X , um estrato da Lava Jato, aparecem os registros de offshore ligadas a Alexandre Chiapetta de Azevedo. O empresário foi casado, até recentemente, com Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho, um dos herdeiros das Organizações Globo. Ele foi autor da indicação e da entrega de um prêmio da empresa ao juiz Moro. Na lista encontrada na sede da Mossack & Fonseca aparece ainda a Vaincre LLC.
A offshore faz parte de uma teia de empresas, no exterior. É sócia da Agropecuária Veine Patrimonial que, por sua vez, é dona de uma mansão, com praia privativa em Paraty, litoral do Rio de Janeiro. Segundo a emissora norte-americana de TV Bloomberg, o imóvel seria utilizado pela família Marinho. A propriedade é alvo de uma ação do Ministério Púbico Federal, por crime contra o meio ambiente. Os Marinho negam ser os donos do imóvel.
Endereço
As relações dos herdeiros da Globo com a casa em Paraty, no entanto, consolidam-se em uma série de documentos. Na mesma lista apreendida no escritório da Mossack Fonseca, ao lado do registro a respeito da Vaincre LLC, aparece o nome de outra empresa, a Glem Participações. Esta detém um contrato com o governo estadual do Rio de Janeiro para a exploração do parque de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Segundo o blog Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, a Glem pertence a Azevedo, ex-marido de Paula Marinho. A neta de Roberto Marinho aparece ainda como fiadora do contrato entre o governo fluminense e a Glem. Outro documento revela que a Agropecuária Veine é dona de uma cota de um helicóptero do modelo Augusta A-109, matrícula PT-SDA, utilizado pela família Marinho. O endereço para entrega de correspondências no contrato de importação do helicóptero é o mesmo da empresa de Azevedo.
A empresa dona da mansão, em Paraty, recebe suas correspondências no escritório do ex-marido de uma das herdeiras da Rede Globo.
As Organizações Globo, na tentativa de explicar suas ligações com as empresas offshore, o helicóptero e o imóvel, em Paraty, afirma em nota que ninguém da família é proprietário da empresa que administra a casa. Diz também que Paula Marinho não é dona da offshore Vaincre. Mas, pela primeira vez, confirma que a empresa é de propriedade do ex-marido. O genro de Marinho foi procurado por jornalistas, à época, mas não comentou o caso.
Perguntas respondidas
Na nota, as Organizações Globo responderam às perguntas da revista Carta Capital:
1- Existe alguma relação entre os proprietários do Grupo Globo e a empresa Agropecuaria Veine Patrimonial?
R: Não. Os proprietários do Grupo Globo não são donos dessa empresa.
2 - Existe alguma relação entre a offshore Vaincre LCC e Paula Marinho Azevedo?
R: Paula Marinho não é proprietária dessa empresa, direta ou indiretamente. O responsável por essa empresa é o ex-marido de Paula Marinho.
3 - Existe alguma relação entre a Glem Participações e Paula Marinho Azevedo?
R: Paula Marinho não é e nunca foi proprietária dessa empresa. A empresa é de propriedade da família do ex-marido de Paula Marinho.
O helicóptero
4 - Um contrato do helicóptero Agusta A-109, matrícula PT-DAS, tem como endereço de correspondência a Glem Participações. Paula foi fiadora do termo entre o Estado do Rio e a Glem Participações para a concessão do estádio de remo na Lagoa Rodrigues de Freitas. Qual a relação dela com o helicóptero e com a empresa?
R: O helicóptero que teve as documentações expostas não pertence e nem é utilizado pela família ou pelo Grupo Globo. Quanto à fiança, se operou na época em que esteve casada, a pedido do então marido.
5 - Um heliponto em Paraty foi registrado em nome da Agricultura Veine com o direito de uso de tal aeronave acima mencionada. O ex-marido dela fez ou faz uso da aeronave? Qual a relação de Paula com este heliponto?
R: O Grupo Globo não tem relações com essa empresa nem com o heliponto. O possuidor da aeronave é o ex-marido de Paula.
Libertadores
6 - Tal heliponto fica em uma praia e presta serviço a uma residência a beira mar. Qual a relação da propriedade com a empresária?
R: O Grupo Globo informa que a citada casa não pertence e nunca pertenceu a qualquer membro da família Marinho.
7 -Segundo o jornal holandês De Verdieping Trouw, documentos revelam que a emissora teria usado empresas de fechada para pagar intermediários em direitos de transmissão da Libertadores da América.
Qual o posicionamento da empresa?
R: A Globo adquiriu os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América da empresa detentora e autorizada a cedê-los. Toda a movimentação financeira foi registrada e realizada via Banco Central e todos os impostos recolhidos conforme a regulação vigente.