Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2025

Rocinha vive clima de tensão após morte de traficante

A Favela da Rocinha teve uma madrugada tensa nesta quinta-feira, mas sem tiroteios, após a morte do traficante Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, chefe do tráfico na favela. Desde o fim da tarde de quarta-feira o comércio está parado no local. O policiamento está reforçado para tentar evitar uma nova invasão da quadrilha de Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu. (Leia Mais)

Quinta, 15 de Abril de 2004 às 09:04, por: CdB

 A Favela da Rocinha teve uma madrugada tensa nesta quinta-feira, mas sem tiroteios, após a morte do traficante Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, chefe do tráfico na favela. Desde o fim da tarde de quarta-feira o comércio está parado no local. O policiamento está reforçado para tentar evitar uma nova invasão da quadrilha de Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu.

Segundo policiais do 16º BPM (Olaria), Dudu, o rival, estaria na Favela do Grota, no Complexo do Alemão, se recuperando de um ferimento (ele foi baleado durante o tiroteio da última sexta-feira). Dudu pretende reorganizar o grupo para uma próxima investida contra os remanescentes da quadrilha de Lulu.

Parentes de Lulu passaram a manhã desta quinta-feira, no Instituto Médico-Legal (IML), aguardando a liberação do corpo do traficante. Ele será enterrado, às 17h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Cerca de dez ônibus levarão os moradores da Rocinha para o enterro.

O traficante Luciano Barbosa da Silva foi morto a tiros na tarde de quarta-feira durante confronto com agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope). O comandante do 23º BPM (Leblon), coronel Jorge Braga, pediu o reforço de cem policiais do Batalhão de Choque para evitar manifestações de moradores simpáticos ao traficante. O comércio fechou as portas e o clima ficou tenso na favela. Moradores voltaram mais cedo para casa com medo da guerra entre traficantes.

Segundo o coronel Braga, Lulu e um integrante de sua quadrilha - Ronaldo Araújo da Silva, o Didão - estavam escondidos na localidade de Laborioux, na parte alta da Rocinha, perto da mata. Eles foram surpreendidos por oito policiais do Bope. Os dois reagiram à prisão e tentaram fugir. Baleados, foram socorridos mas morreram a caminho do Hospital Miguel Couto, na Gávea. Com os traficantes, o Bope apreendeu dois fuzis, duas pistolas da marca Glok e munição. O policiamento foi reforçado na porta do hospital.

Lulu tinha 27 anos e era irmão caçula do traficante Cassiano Barbosa da Silva, que morreu em 1987 durante a Operação Mosaico II. Ele assumiu as bocas-de-fumo da Rocinha em 1995, quando Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, então chefe do tráfico na favela, foi preso. Dudu fugiu da cadeia no começo deste ano e, desde então, tenta retomar o controle do tráfico. Na madrugada da Sexta-Feira Santa, a guerra entre os dois bandos explodiu: a quadrilha de Dudu desceu o Morro do Vidigal, roubou carros na Avenida Niemeyer e invadiu a Rocinha.

Lulu era visto com simpatia por alguns moradores. Ele costumava ajudar, com cestas básicas, famílias de traficantes de seu bando presos. Segundo relatório reservado da Coordenadoria de Inteligência Policial (Cinpol), o tráfico na Rocinha chega a faturar R$ 10 milhões por semana, mas em fevereiro, mês do carnaval, a venda de drogas rendeu R$ 50 milhões.

Lulu construiu uma mansão com piscina, churrasqueira e pista de dança no morro Ela foi transformada em base de operações pela Polícia Militar depois da ocupação policial da favela, na manhã de segunda-feira. A casa, na localidade de Laboriaux, fica num ponto estratégico: dá acesso à mata, por onde traficantes teriam fugido na sexta-feira.

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