O jogador do Quilmes Leandro Desábato passará mais uma noite preso em São Paulo porque os advogados do argentino não conseguiram pagar a fiança de 10 mil reais a tempo.
Desábato foi detido na noite de quarta-feira por acusação de injúria racial contra o atacante Grafite, do São Paulo, mas recebeu "liberdade provisória mediante o pagamento de fiança", de acordo com resolução do juiz Marcos Zilli.
Porém, seus advogados tinham 6.700 reais e não conseguiram pagar o valor total até o prazo das 19h desta quinta.
Desábato foi transferido do 34o. Distrito Policial, na Vila Sônia, para o 13o. DP, na Casa Verde, porque a delegacia em que o jogador estava não havia carceragem.
Ele está em uma cela sozinho, segundo o delegado Ítalo Miranda Júnior, do 13o. DP, porque poderia causar um "alvoroço".
"Ele chegou chorando, algemado e em uma roupa de treino do Quilmes", disse Miranda Júnior.
A fiança deve ser paga na manhã de sexta-feira, e Desábato terá que comparecer a um Fórum para assinar o compromisso de que voltará ao Brasil assim que for solicitado.
Desábato foi preso após ter insultado o atacante Grafite na partida contra o São Paulo no estádio do Morumbi, pela Copa Libertadores. O lance aconteceu ainda no primeiro tempo, quando o argentino teria feito ofensas racistas contra Grafite.
O brasileiro devolveu a provocação empurrando o rosto do adversário e foi expulso.
Logo após o jogo, vencido pelo São Paulo por 3 x 1, Desábato foi levado ao 34o. DP. O argentino prestou depoimento e, de acordo com o delegado Dejar Gomes Neto, admitiu ter chamado Grafite de "negrito" e disse não ter se arrependido.
Segundo o Departamento de Informações Policiais de São Paulo (Dipo), a acusação foi enviada ao Ministério Público da Barra Funda, onde foi analisada.
O presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Nicolás Leoz, disse na quinta-feira que o jogador argentino está suspenso preventivamente por um jogo. Ele será julgado após a entidade receber o relatório do delegado enviado pela Conmebol à partida.
O governo brasileiro, por meio do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, condenou a atitude do jogador argentino.
"O Governo Federal acionará as esferas da administração esportiva nacional e internacional para que adotem medidas concretas para banir definitivamente do espetáculo esportivo a discriminação racial, o preconceito e a xenofobia, que, se não eliminados, representam ameaça à democracia", diz a nota do Ministério do Esporte.
O embaixador da Argentina em Brasília, Juan Pablo Lolhé, acredita que Desábato deveria pedir desculpas. "Seria bom se o jogador pedisse desculpas, deve pedir desculpas", disse ele na quinta-feira.
Lohlé explicou que existem diferenças culturais entre os dois países e isso deve ser levado em conta, mas assegurou que "de nenhum modo o povo argentino é um povo que discrimina, é um povo igualitário".
Este não foi o primeiro incidente envolvendo Grafite e o clube argentino Quilmes. No empate entre as equipes por 2 x 2 no mês passado, também pela Libertadores, o atacante brasileiro afirmou ter ouvido xingamentos de negro e macaco durante a partida, na Argentina.
Recentemente casos de racismo abalaram o futebol europeu, incluindo ofensas a jogadores brasileiros como Ronaldo e Roberto Carlos.
Durante uma derrota do Real Madrid num jogo do Campeonato Espanhol no mês passado, Ronaldo ouviu xingamentos racistas da própria torcida quando se aproximava do banco, e acabou atirando uma garrafa de plástico como resposta.
A Espanha é justamente palco de uma das maiores polêmicas recentes sobre o tema. Durante treino para o amistoso em outubro contra a Inglaterra, o técnico da seleção espanhola, Luis Aragones, chamou o atacante francês Thierry Henry de "negro de merda".
Segundo o treinador, que pediu desculpas pelo incidente, sua frase foi tomada fora de contexto e tinha como inten