Alemanha: a cada cinco minutos uma mulher é vítima de violência

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Publicado Domingo, 25 de Novembro de 2018 às 11:53, por: CdB

Assim como em muitos países, mulheres são principais alvos de violência doméstica na Alemanha. A cada três dias uma é morta pelo parceiro ou ex-parceiro.

Por Redação, com DW - Berlim A violência contra as mulheres ocorre no quarto de dormir, na sala de estar, por vezes em festas familiares e aniversários. Também na Alemanha, onde elas supostamente deveriam se sentir seguras.
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Número de ocorrências deve ser bem maior do que mostram as estatísticas, pois muitos delitos não são reportados
A cada cinco minutos uma mulher é ameaçada, espancada, perseguida, psiquicamente pressionada, assediada sexualmente ou violentada no país, segundo os estudos mais recentes do Departamento Federal de Investigações (BKA). Os agressores são, em geral, o marido, companheiro ou familiar do sexo masculino entre 30 e 39 anos. De 2013 a 2017, o número de vítimas da violência no relacionamento ou doméstica na Alemanha subiu de 121 mil para quase 140 mil por ano, sendo a maioria mulheres. Pior de tudo, a cada três dias, uma mulher foi morta pelo parceiro ou ex-parceiro. No entanto, "o problema é definitivamente maior do que refletem os números", comenta à agência alemã de notícias DW Dominic Schreiner, porta-voz da organização Weisser Ring (anel branco), de assistência às vítimas da criminalidade. Em geral, as mulheres estão mais ameaçadas de violência doméstica do que de outros delitos violentos, como lesões corporais ou assalto. O número de ocorrências deve ser bem maior do que mostram as estatísticas, pois muitos delitos não são reportados. "No máximo 20% das atingidas procuram ajuda, portanto é de se contar que haja muito mais vítimas", revela Schreiner. Como explicou na TV ARD a ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, isso se deve ao fato de a violência contra a mulher ainda ser muito associada à vergonha, pois é costumeiro impingir-se às mulheres que "elas próprias são culpadas por esse estado de coisas". As mulheres têm vergonha de levar seus problemas a grupos de proteção a vítimas ou às autoridades especialmente quando o agressor é uma pessoa próxima. – Por isso é tão importante nós trazermos o tema a público e dizermos: 'Você não está sozinha' – frisou Barley.

Dia interncional contra a violência 

Neste domingo, a Organização das Nações Unidas chama a atenção para os abusos com o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. A ONU também inicia na data sua campanha 16 Dias Contra a violência de Gênero, que todos os anos vai até 10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Durante os 16 dias realizam-se por todo o mundo eventos e ações, e prédios e locais representativos são coloridos de alaranjado, cor que simboliza um futuro livre de violência. O slogan de 2018 é "Não deixar ninguém para trás". Antes da campanha, o governo alemão divulgou novos planos para combater a violência contra as mulheres. Na última terça-feira, a ministra da Família, Franziska Giffey, apresentou em Berlim o relatório Avaliação criminal-estatística sobre violência no relacionamento 2017. Na ocasião, anunciou que seriam investidos 35 milhões de euros num programa de ação antiviolência, além de reivindicar mais postos de aconselhamento, abrigos para mulheres e endurecimento das leis. Para as vítimas, há a possibilidade de recorrer a organizações como o Weisser Ring, ou ao telefone de emergência "Gewalt gegen Frauen" (violência contra mulheres), do Departamento Federal para a Família e Tarefas da Sociedade Civil (BAFzA), que oferece assistência 24 horas por dia, de modo anônimo, em 17 idiomas. Impulso do #MeToo As que utilizam esse telefone provêm de todas as faixas de instrução, idade e renda, nacionalidades e religiões, revela Petra Söchting, diretora do serviço. "Fica configurado exatamente o fenômeno que também vemos em outras partes: toda mulher está sujeita à violência." Nos últimos anos, o número de telefonemas vem crescendo, e apenas em 2017 a organização registrou 38 mil pedidos de aconselhamento. Em 60% dos casos tratava-se de violência doméstica. Tanto a divulgação crescente da "Gewalt gegen Frauen" quanto campanhas como a #MeToo ajudaram a "trazer a público o tema da violência antifeminina e libertá-lo de tabus", crê Söchting. Tais movimentos mostraram quão quotidiana essa violência é, "tornando mais fácil para as atingidas se manifestarem". Apesar de ainda haver muito a ser feito para proteger as mulheres, não há como ignorar melhoras significativas no direito penal, nos últimos anos, aponta a ministra Barley. "Quase não dá para acreditar: há 20 e poucos anos, o estupro no casamento não era punível. Agora introduzimos no direito penal sexual o princípio do 'não é não'." Por outro lado, critica, não se deveria tornar os processos tão duros para as mulheres. "Sabe-se que muitas não denunciam porque têm que depor tantas vezes", num procedimento penoso. A sugestão de Barley é fazer-se um único interrogatório em vídeo, a ser reutilizado quando necessário.

Alemanha, país machista?

Outro ponto que exige mudanças são os tradicionais papéis dos gêneros na Alemanha. "Essa alta proporção de violência contra mulheres que registramos aqui é expressão de uma desigualdade existente entre homens e mulheres", constata Söchting. Até o momento não se conseguiu uma equiparação em todas as questões sociais. Schreiner, da organização Weisser Ring, diz haver até mesmo um condicionamento social, que "continua designando ao homem uma espécie de papel de senhor entre as próprias quatro paredes". Isso agrava o perigo de que ele exerça seu poder com violência. – Talvez a Alemanha não seja tão moderna assim, no que diz respeito à concepção dos papéis e aos clichês de gênero – diz.
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