Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2025

Cardeais dão indícios de perfil do novo papa

Segunda, 04 de Abril de 2005 às 11:20, por: CdB

Os cardeais da Igreja Católica têm de jurar segredo sobre o processo de eleição do novo papa, mas muitos deles já estão se manifestando a respeito do perfil do sucessor de João Paulo II, a ser definido em um conclave que começa neste mês.

Os 117 "príncipes da Igreja" - 65 dos quais se reuniram na segunda-feira no Vaticano para preparar o funeral de João Paulo II - precisam prometer que não vão revelar nada a respeito das deliberações. Por isso, nenhum deles menciona nomes publicamente.

Mas, dois dias após a morte do papa polonês e a menos de 20 do começo do conclave, comentários cautelosos de alguns cardeais já dão pistas sobre o que eles pensam.

Alguns insinuam que gostariam de ver um papa dos países em desenvolvimento; outros querem alguém que siga a doutrina conservadora de João Paulo II.

- Todo papa deve ser um conservador. São Paulo disse a seus discípulos que 'conservem intacto o depósito da fé'. Um conservador é quem conserva. Um papa não pode ser liberal na doutrina da Igreja - disse o cardeal chileno Jorge Medina.

João Paulo II era criticado por católicos liberais e por entidades de direitos humanos por suas manifestações contra o aborto, o uso de anticoncepcionais, os direitos dos homossexuais e a ordenação de mulheres.

Em seu longo pontificado, João Paulo II nomeou todos, menos dois, dos cardeais que participarão do conclave. Por isso, é possível que o próximo pontífice tenha um pensamento afinado com o antecessor.

- Não tenho pessoas em particular em mente, mas quero para a Igreja alguém que mantenha a direção dada por João Paulo II - disse o cardeal neozelandês Tom Williams, numa declaração comum a vários colegas.

A escolha de um papa de países em desenvolvimento seria um aceno para os fiéis da América Latina (onde vive o maior número de católicos do mundo) e da África (onde a religião mais se expande).

- Acredito que haverá uma grande abertura (para os países em desenvolvimento). Ninguém acreditava há 26 anos que teríamos um papa polonês, e Deus o deu para a Igreja - afirmou o chileno Francisco Javier Errazuriz.

- O que vem agora? Chegará o dia de um papa latino-americano ou africano. Quando? É impossível dizer - acrescentou.

O francês Bernard Panafieu disse que a Igreja deve reagir aos desafios modernos "não simplesmente na Europa Ocidental, mas também nesses imensos continentes que frequentemente não conhecemos muito bem, ou onde haja comunidades cristãs muito ativas."

- Estou falando da Índia, até da China, obviamente sem mesmo mencionar a América Latina.

O arcebispo de São Paulo, Cláudio Hummes, ele próprio apontado como "papabile", disse que o novo pontífice deve ser alguém que se mostre a serviço dos mais pobres e excluídos, mas também seja capaz de enfrentar outros desafios do século 21.

- Ele deve continuar os diálogos; com as ciências, as religiões, a sociedade, a biotecnologia, a biologia e a bioética. Todas essas áreas estão se desenvolvendo rapidamente, e há muitas coisas que precisam ser discutidas.

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