Por Maria Lúcia Dahl - Descobri que meu senso de direção não era essas maravilhas, quando meu ex-marido, desesperado com minhas idas e vindas à bordo do querido fusca, implorava ao meu lado: “não seja insegura, meu bem,quando você achar que é pra esquerda, vá pra direita!”
Desorientada, a colunista roda num Fusca e respira alviada ao poder retornar para Cobacabana
Descobri que meu senso de direção não era essas maravilhas, quando meu ex-marido, desesperado com minhas idas e vindas à bordo do querido fusca, implorava ao meu lado: “não seja insegura, meu bem,quando você achar que é pra esquerda, vá pra direita!”
Então, quando vi as novas placas espalhadas pela cidade implorando-nos por tudo o que é mais sagrado, que “acredite na sinalização”, como se fosse um dogma de fé, espécie de mantra que se vai repetindo pelo caminho até incorporá-lo ao nosso inconsciente, deixei meu marido de lado, e passei a acreditar piamente nelas, quando saí de Correias pro Rio, junto com minha amiga e minha irmã.
Dirigindo o fusca, seguias religiosamente, como uma crente diante de um Pai de Santo famoso, e por causa disso, fui parar na Penha, Irajá e Guadalupe.
Dez horas da noite. Ninguem na rua. Então, diante da impossibilidade de alguma troca de informação com algum ser vivo, continuamos, já exaustas, a viagem por um deserto de Sahara, até sermos surpreendidas, de repente, por um motel.
Salto, aliviada, do carro, diante de uma remota possibilidade de informação e toco a campaínha de uma portaria vazia. Esperamos na porta, as três, até que esta se abriu, fechandose imediatamente, em seguida, e por de traz dela: ninguém.
E agora? O que faremos, três senhoras distintas presas num motel em Guadalupe?
Tocamos novamente a campainha e um novo “abrete Sézamo” nos liberou de volta à estrada vazia.
Num acesso de fúria, descontrolado, minha irmã começou a gritar: “táxi! táxi!” e o eco a remedou, debochado: “táxi! Táxi!”
Assim como uma miragem no deserto um homem surgiu da escuridão. Fiteio determinada, o que o fez fugir, apavorado, temendo um assalto. Então abri a janela do carro e gritei ao volante: “Moço! Pelo amor de Deus, onde fica Copacabana?” Em disparada, ele gritou de longe, com o dedo indicador, apontando uma abstração:
“Tem que fazer o retorno!” em meio ao eco que respondeu: ”ôrno, ôrno!”
Mais alguns quilômetros de desconfiança até me deparar com a prova dos nove à minha frente, escrito: “Campo Grande” , e como por milagre, um novo retorno, à direita, indicava a palavra mágica: Copacabana
Como um filho pródigo que, finalmente retorna ao lar depois de um longo período ausente, desembarco, feliz, diante de uma das minhas primeiras e mais belas referências da minha vida: a Princesinha do Mar!
Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.
Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins
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