CPMI das Fake News pesa para Bolsonaro, após mentiras e agressões

Arquivado em:
Publicado Quinta, 20 de Fevereiro de 2020 às 16:15, por: CdB

Os parlamentares levaram à PGR os insultos de Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello, como prova cabal da quebra de decoro “em decorrência de ataques misóginos e machistas”.

 
Por Redação - de Brasília
A representação ingressada contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) junto à Procuradoria Geral da República (PGR), por um grupo de deputados e senadores da oposição, somou-se nesta quinta-feira à lista de ações que o mandatário neofascista precisará responder, no âmbito judicial. Passou a contar o prazo, de 10 dias úteis, para que o procurador-geral, Augusto Aras, pronuncie-se na petição e dê início ao rito processual.
randolfe-rodrigues.jpg
O senador Randolfe Rodrigues é um dos signatários da ação contra Bolsonaro
Os parlamentares levaram à PGR os insultos de Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), como prova cabal da quebra de decoro “em decorrência de ataques misóginos e machistas”. “É inadmissível que o chefe da nação profira palavras tão preconceituosas a mulheres, jornalistas e ao ser humano em geral, o que ofende de plano a Constituição Federal”, afirma o documento. — Esperamos uma reação por parte do procurador-geral, que afinal é o fiscal da lei — disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a jornalistas, ao protocolar o documento.

Fake News

Não bastassem as agressões de Bolsonaro à repórter citada na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, o colegiado ouviu, na véspera, o depoimento de Lindolfo Antônio Alves Neto, sócio-proprietário da empresa Yacows, especializada em marketing digital, que prestou serviços a políticos e campanhas, e foi subcontratada pela produtora AM4. A empresa trabalhou para a campanha do então candidato Jair Bolsonaro (PSL). Em seu depoimento, segundo deputados da oposição, Lindolfo se contradisse ao afirmar que sua empresa não divulgava e não divulga noticia falsa, e, por outro lado, dizer que desconhece o conteúdo das mensagens enviadas a partir de sua plataforma, como as mensagens de responsabilidade da AM4. Ao ser inquirido pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), signatário da representação contra Bolsonaro, e a deputada Natália Bonavides (PT-RN), o empresário foi questionado sobre se reconhecia fotos de celulares com mensagens, fotografados e exibidos por seu ex-funcionário Hans River do Rio Nascimento na semana passada.

Conteúdo

Lindolfo reconheceu as fotos como sendo do “ambiente da empresa”, mas disse desconhecer o conteúdo de mensagens que espalharam notícias falsas contra a campanha de Fernando Haddad, nas imagens de celulares no próprio “ambiente” da empresa. — Ele reconhece o ambiente da empresa (nas fotos), mas não o conteúdo das mensagens. O depoente já deu a sua contribuição à CPMI — ironizou Randolfe. Na inquirição feita por Natália, o depoente declarou desconhecer o conteúdo das mensagens, como as enviadas contra a campanha petista. — O sr. disse que sua empresa não divulgava notícia falsa, e agora diz que desconhece o conteúdo das mensagens enviadas — insistiu. Lindolfo voltou a responder que desconhece as mensagens. — Então como pode afirmar que sua empresa não foi usada pra divulgar noticias falsas? Conhece o conteúdo ou desconhece? A deputada questionou o empresário sobre a lista de 10 mil CPFs apresentada por Hans River. Os CPFs teriam sido usados para cadastro de chips. — Já viu essa lista? — questionou Natália. — Desconheço — respondeu Lindolfo. E o diálogo continuou:— Desconhece o quê? — perguntou Natália Bonavides. — Essa lista. — O sr. desconhece que os seus empregados faziam cadastro de chips com CPFs que recebiam? — Isso não era um método operacional da empresa. — Quem faz a triagem de que nenhuma atividade ilícita é cometida através do seu serviço? — Não existe atividade ilegal. — Quem faz a triagem pra garantir isso? — Os sócios têm responsabilidade nisso, excelência. — O sr. está dizendo que vocês têm conhecimento do conteúdo das mensagens? — Não. Você disse da triagem de atividades ilícitas. — Atividades ilícitas podem ser cometidas através do conteúdo das mensagens. Inclusive é disso que se trata o disparo de fake news. Existe alguém que trata disso na sua empresa, que tenha o cuidado de fazer o controle de que tipo de serviço vocês estão prestando? — O conteúdo acreditamos que seja de responsabilidade das pessoas que estão contratando – respondeu Lindolfo, em referência à agência AM4. O empresário disse ainda que, após as denúncias contra a Yacows divulgadas pela imprensa, foi feita análise técnica sobre conteúdo das mensagens. — Chegamos à conclusão de que não foram disparadas fake news — afirmou.

Jornalismo

Aliado de Bolsonaro no Congresso, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) voltou a questionar a jornalista da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello. Segundo ele, Hans “fez declarações que desagradou (sic) a muitas pessoas com relação à jornalista”. O bolsonarista disse ainda que “a oposição e a própria relatora se anteciparam, fazendo um juízo de valor de tudo isso, como se (Hans River) tivesse cometido falso testemunho”. — Mas em nenhum daqueles prints, planilhas, que a Patrícia Campos Mello divulgou, nada contradiz o que o sr. Hans River trouxe aqui — retrucou. A resposta foi imediata. — O deputado está mentindo. As afirmações de Hans sobre o comportamento da jornalista são a prova de que ele mentiu. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) entrou com uma notícia-crime no Ministério Público, nesta terça-feira (18), contra Hans River, por falso testemunho — intercedeu a deputada Natália. E a relatora resumiu: — Quanto às tentativas de desqualificar uma mulher. Isso eu vou combater, seja em Hans (River do Nascimento), seja do presidente da República, seja em quer que queira ter isso como discurso.

Em março, a CPMI deve ouvir o depoimento do parlamentar britânico Damian Collins, para falar da experiência relativa às fake news no Reino Unido e da influência da Cambridge Analytica na política dos Estados Unidos e da Grã Bretanha; além de suas atividades no Brasil. A comissão volta a se reunir em 3 de março para ouvir os sócios da AM4.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo