A ‘facada’ em Bolsonaro e grupos neonazistas se encontram no Paraná

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Publicado quarta-feira, 5 de janeiro de 2022 as 17:08, por: CdB

Ao longo da apuração sobre o envolvimento do grupo neonazista 88 Tactital, os investigadores observaram uma forte aproximação entre o filho ’03’ de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e os chefes da facção radical de ultradireita que participou ativamente da invasão do Capitólio, em Washington DC.

Por Fábio Lau e Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro

As incursões de aficcionados integrantes brasileiros da ultradireita aos EUA, para encontros com associações de tendências neonazistas, no Estado norte-americano de Nebraska (NE), pouco antes da suposta facada no então candidato a presidente da República Jair Bolsonaro, estão no centro de uma recente investigação em curso nos EUA. O Seeing Red, jornal de uma associação humanitária e de esquerda, com sede em Omaha, teve acesso a uma série de dados até agora subestimados na narrativa sobre o presumido atentado ocorrido em Juiz de Fora (MG).

Zanatta
Julia Zanatta se aproximou de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pouco antes da suposta facada de Adélio Bispo

Em nota do Editor, o Seeing Red Nebraska sublinha que “raramente publica contribuições anônimas”, mas as admite, no caso, uma vez que fontes internacionais têm razões de sobra para exigir o anonimato. O veículo de comunicação observava, inicialmente, as atividades do grupo neonazista norte-americano 88 Tactical de Omaha, que participou de forma proeminente na invasão do Capitólio, em Washington, logo após as eleições de novembro de 2020, naquele país. 

Ao longo da apuração, no entanto, os investigadores observaram uma forte aproximação entre o filho ’03’ de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e os chefes da facção radical de ultradireita. “O Seeing Red Nebraska já havia escrito sobre as afinidades neonazistas do 88 Tactical de Omaha e sua estranha relação com o regime de Bolsonaro, no Brasil, incluindo o fato de amigos próximos dos filhos de Bolsonaro estarem na equipe do campo de tiro de Nebraska”, ressalta o artigo, publicado em novembro último.

“Desde que essa cobertura foi publicada, ativistas internacionais preocupados com o regime de Bolsonaro e suas aspirações fascistas se aprofundaram na estranha rede de relações entre funcionários do 88, dos Trumps, dos Bolsonaros; além de assessores do alto escalão nos governos dos dois países e marqueteiros da extrema direita que servem às duas famílias”, acrescenta o Seeing Red.

No artigo publicado, ao qual a reportagem do Correio do Brasil teve acesso, os colaboradores da organização não governamental (ong) buscaram revelar as conexões entre Eduardo Bolsonaro, sua assessora Julia Zanatta, seu ex-namorado e o funcionário da 88 Tactical Tony Eduardo, a suposta tentativa de assassinato de Bolsonaro, em 2018; e os propagandistas da extrema direita Steve Bannon e Olavo de Carvalho. “Ambos estão atualmente sob escrutínio legal de seus respectivos governos por seus papéis em provocar uma insurreição de extrema direita”, ressalta o Seeing Red.

Steve Bannon, Olavo
de Carvalho e uma
operária de Bolsonaro
chamada Julia Zanatta

“Julia Zanatta é amiga e assessora do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente do Brasil, e seguidor de Olavo de Carvalho, um autoproclamado filósofo, guru do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e mentor da extrema direita no Brasil. A agenda de Olavo inclui a oposição à imigração e a generalização de todas as pessoas de esquerda como comunistas. Seu método varia de assédio constante às forças inimigas à lei. Olavo tem milhares de seguidores em seu curso de filosofia online. Alguns de seus alunos conseguiram cargos importantes no governo de Bolsonaro, incluindo o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo”, observa.

Os redatores do artigo lembram, ainda, que “em maio de 2019, Zanatta mentiu duas vezes para um jornalista de rádio de sua cidade natal no sul do Brasil quando disse que o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, nunca havia se encontrado pessoalmente com Olavo de Carvalho antes do início daquele ano. Ela também escondeu a informação de que Steve Bannon visitou a casa de Olavo de Carvalho, em Petersburg, na Virgínia, enquanto ela e Eduardo Bolsonaro frequentaram o mesmo lugar por ao menos uma semana, em janeiro de 2019. Segundo outro convidado, o cineasta Josias Teófilo, Steve Bannon estava lá para se atualizar sobre o cenário político no Brasil. Jair Bolsonaro havia acabado de iniciar seu mandato como presidente do país”.

“Zanatta visitou Olavo de Carvalho ao lado de Eduardo Bolsonaro, que já havia estado lá antes, dois anos antes, em janeiro de 2017, quando fez uma parada antes de ir ao Shot Show em Las Vegas”, assinala o jornal. The Shot Show é a maior feira anual para entusiastas de armas nos Estados Unidos.

Suposto atentado

Em Setembro de 2018 Zanatta começou a namorar Tony Eduardo, um dos associados do 88 Tactical e proprietário do Clube de Tiro .38, sediado no Sul do Brasil. Na época, o clube ganhou as manchetes da mídia brasileira ao ser citado no inquérito sobre a suposta facada no então candidato presidencial Jair Bolsonaro. O clube, frequentado pelos filhos de Bolsonaro Eduardo e Carlos, também conhecido como ’02′, também fora visitado por Adelio Bispo, o homem acusado de esfaquear Bolsonaro, dois meses antes do atentado. Bispo está preso, incomunicável, em uma instituição para doentes mentais, há mais de dois anos.

Julia Zanatta, desta vez, assume a condição de porta-voz do .38 e afirma à imprensa que Adelio Bispo e Carlos Bolsonaro nunca se encontraram no clube e que Adelio apenas completou o curso de tiro de um dia, oferecido por um dos seus instrutores. Sem muitos questionamentos, a mídia conservadora e hegemônica tomou como verdadeiras as declarações de Zanatta, sem outras perguntas. “Ninguém parece ter pedido ao clube para fornecer filmagens de vigilância que pudessem mostrar possíveis interacções entre Carlos e Adelio, e ninguém entrevistou o instrutor que treinou Adelio nesse dia”, observa o jornal norte-americano.

Coincidentemente ou não, a 4 de Agosto de 2018 – um mês antes do suposto atentado a Jair Bolsonaro, o ’03′ encontrou-se com o hoje presidiário Steve Bannon, em Nova York. No Instagram, Eduardo Bolsonaro escreveu: “O Sr. Bannon, estrategista na campanha presidencial de Donald Trump em 2016, é um entusiasta da campanha de Jair Bolsonaro e estamos unindo forças, especialmente, contra o marxismo cultural”.

Armas de fogo

O encontro entre Eduardo Bolsonaro e Bannon, no entanto, é significativo. A 5 de Novembro de 2016, apenas três meses depois de Trump ter nomeado Bannon como diretor executivo da sua campanha, ocorreu um falso alarme num dos comícios de Trump. Alguém no público em Reno, no Estado norte-americano de Nevada, gritou que um homem tinha uma arma. Foi a deixa para Trump sair apressado do palco, escoltado pela segurança, e voltar minutos depois para anunciar tem tom triunfante: “Ninguém disse que ia ser fácil para nós”. Momentos depois, Carlos Bolsonaro, o ’02′, comentou na sua página do Facebook que o ocorrido a Donald Trump era sinal de que algo semelhante poderia acontecer com o pai dele, no futuro. Acertou em cheio.

Tony Eduardo, o hoje ex-namorado de Zanatta, e a família Bolsonaro, na realidade, já trabalham juntos desde 2015, no seu objetivo comum de alterar a legislação brasileira sobre controle de armas de fogo e facilitar o acesso a civis ao equipamento bélico. Através de Tony Eduardo e da sua ligação com a 88 Tactical de Omaha, onde atua como um dos instrutores de tiro, Eduardo Bolsonaro foi apresentado a Donald Trump Jr. Seis meses após este encontro com Donald Trump Jr., Eduardo Bolsonaro conheceu Steve Bannon em Nova Iorque, em Agosto de 2018.

“A ligação entre a NRA, a indústria de armas dos EUA e o financiamento da campanha presidencial de Jair Bolsonaro em 2018 é algo que requer mais investigação e investigação por parte das autoridades”, observam os articulistas.

Zanatta deslancha

O principal efeito do suposto atentado a Bolsonaro foi a vitória nas eleições em Outubro de 2018. A possível facada, no entanto, acelerou a carreira de Julia Zanatta, promovida de porta-voz do clube de tiro para relações públicas do PSL, ao assumir a candidatura a um cargo eletivo em Criciúma, interior de Santa Catarina. Formada em Direito e Jornalismo, Zanatta incluiu uma passagem pelo Institute for US Law (IUSLAW) em Washington. Durante a maior parte da sua carreira profissional trabalhou para familiares que eram congressistas do Estado de Santa Catarina, incluindo o seu primo Ricardo Zanatta Guidi e o seu pai, Altair Guidi.

Zanatta viajou muitas vezes para os EUA enquanto esteve com Tony Eduardo em 2017 e 2018. Visitaram USBR, a instalação de treino de armas de fogo do Texas operada por Tony Eduardo e pelo seu amigo e colega no 88 Tactical Yves Sousa. Estiveram também presentes Eduardo Bolsonaro e a sua parceira Heloisa. Depois de estabelecida a sua relação com os Bolsonaros, Julia e Tony Eduardo separaram-se, mas o envolvimento deles com a família continuou.

Em Junho de 2019 Julia Zanatta promoveu uma palestra do hoje foragido da Justiça Allan dos Santos a apoiadores de extrema direita na sua cidade natal, Criciuma. Em Abril do ano passado, a catarinense foi convidada por Bolsonaro a trabalhar como Coordenadora para o Turismo no Sul do Brasil.

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