Indústria brasileira teme perder mercado após decisão dos EUA de sobretaxar aço

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Publicado Sábado, 03 de Março de 2018 às 08:29, por: CdB

Ao todo, 32% do aço exportado pela indústria brasileira tem como destino os Estados Unidos. Com isso, o país figura como o segundo maior exportador para o mercado norte-americano

Por Redação, com ABr - de Brasília:

Com a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as exportações de aço e alumínio em 25% e 10%, respectivamente, a indústria brasileira teme perder espaço não só no país norte-americano, mas também no próprio mercado interno. Representantes das principais indústrias siderúrgicas, ouvidos pela Agência Brasil, avaliam que os demais países afetados pela medida buscarão destinar suas vendas a outros consumidores, o que resultará numa forte pressão comercial sobre as empresas que produzem e empregam no Brasil.

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Indústria brasileira teme que países afetados pela sobretaxação do aço e do alumínio busquem destinar as vendas a outros mercados consumidores

- São dois problemas a partir dessa decisão. O primeiro é perder o principal mercado de exportação (EUA); e o segundo é que aquele aço russo, coreano, japonês, chinês que vai buscar outros mercados, e a indústria local será alvo (de concorrência) - avalia Alexandre Lyra, presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, que reúne as principais empresas do setor.

Ao todo, 32% do aço exportado pela indústria brasileira tem como destino os Estados Unidos. Com isso, o país figura como o segundo maior exportador para o mercado norte-americano, com 4,7 milhões de toneladas embarcadas em 2017. Só perde para o Canadá, que exportou 5,8 milhões de toneladas ano passado.

Exportadores

Entre os 10 os maiores exportadores de aço para os EUA, além de Brasil e Canadá; estão outros parceiros tradicionais do país, como Coreia do Sul (3º), México (4º); Japão (7º) e Alemanha (8º). Países como Rússia (5º) e Turquia (6º) também figuram na lista dos principais exportadores do produto. A China, apesar de ser apenas a 11ª exportadora de aço para os EUA; reponde por 50% da produção mundial e tem uma capacidade instalada ainda maior; de mais de 400 milhões de toneladas, o que poderia inundar os mercados de todos os países com o produto.

No caso do alumínio, a decisão dos EUA de sobretaxar o produto em 10% pode frustrar a expectativa da indústria brasileira do crescimento previsto para este ano; após três anos de quedas sucessivas nas vendas para o mercado interno (entre 2015 e 2017). “A gente estava prevendo um crescimento de 5% no mercado doméstico este ano, agora vamos ter que rever isso em função da decisão do governo Trump”; lamenta Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), que representa as empresas do setor.

Alumínio

O presidente da Abal teme exatamente o efeito que a sobretaxa na exportação de alumínio deve ter no deslocamento do mercado doméstico; pela indústria de outros países. “A primeira coisa que tem que ser feita é monitorar o que pode acontecer com nossas importações. A indústria brasileira compete bem com os EUA e a Europa. Com a China, é mais complicado; estamos falando de subsídio cruzado, uma realidade completamente diferente”, observa.

A indústria do aço também deve rever o crescimento de 4% nas vendas; que estava previsto para este ano no mercado doméstico. “Essa reviravolta (sobretaxação do aço pelos EUA) vai abrir um flanco para a nossa importação em termos de concorrência com outros países e vamos ter que ver como nos proteger”; afirma Alexandre Lyra, do Instituto Aço Brasil.

Reações

Anunciada na quinta-feira pelo presidente norte-americano Donald Trump; a sobretaxa para as importações de aço e alumínio pelo país deve começar a valer na próxima semana; com a edição de um decreto. Em resposta, o governo brasileiro afirmou que ainda espera chegar a um acordo com os EUA para evitar que o país seja incluído na aplicação das tarifas.

Caso isso não seja possível, o Brasil deve questionar a elevação das tarifas em foros globais. “O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral; para preservar seus interesses nesse caso concreto”; informou, em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

O principal argumento do governo brasileiro e da indústria é que 80% da exportação de aço do país; para os EUA é do produto semiacabado, que chega lá para ser reprocessado pelas indústrias do país e se tornar matéria-prima para o setor automobilístico, militar, de petróleo. “O aço brasileiro não destrói emprego nos EUA e ainda complementa a cadeia produtiva deles”; explica Alexandre Lyra.

EUA

A redução das exportações brasileiras de aço pode causar um efeito colateral para indústria de carvão mineral dos EUA. Isso porque o Brasil importa mais de US$ 1 bilhão por ano de carvão norte-americano; que serve de base justamente para a obtenção do aço produzido nacionalmente.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI); a decisão norte-americana de impor sobretaxas ao aço e alumínio é “injustificada, ilegal e prejudica o Brasil”. “Se adotadas; as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio. Isso equivale a uma massa salarial de quase R$ 350 milhões e impostos da ordem de R$ 200 milhões”; ressaltou a entidade, em nota.

As indústrias de aço e alumínio empregam mais de 200 mil trabalhadores no país. Em nota, as principais centrais sindicais do país manifestaram repúdio à decisão e afirmam que farão atos e manifestações em diversos locais. “O anúncio da medida causa enorme preocupação de que, se a taxação for confirmada, as exportações brasileiras de aço e alumínio serão afetadas, com diminuição da produção e, consequentemente, dos empregos no Brasil. A intenção é preservar milhares de empregos que serão perdidos na cadeia produtiva do setor e a cota de exportação”, diz um trecho da nota.

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