Rio de Janeiro, 18 de Dezembro de 2025

Mostra leva solidão do pintor Edward Hopper a Londres

Terça, 25 de Maio de 2004 às 11:45, por: CdB

Será inaugurada em Londres, na quinta-feira, uma grande exposição de telas de Edward Hopper, cujos trabalhos mergulharam fundo na alma dos Estados Unidos do século 20.

É a primeira mostra feita na Inglaterra nos últimos 23 anos do trabalho de um poeta pictórico que transformou a solidão em forma de arte e cujas imagens evocativas captaram o clima da América desde a Grande Depressão dos anos 1930 até os revolucionários anos 1960, passando pela 2a Guerra Mundial.

"Hopper inspirou uma multidão de escritores, artistas e cineastas", disse a curadora da exposição, Sheena Wagstaff, a jornalistas na terça-feira. "Essas são imagens da condição humana -- daquilo que significa estar vivo."

Hopper usava figuras solitárias e um jogo de luz e sombra para expressar sentimentos poderosos de tensão e isolamento. Seus quadros frequentemente incluem janelas que simbolizam a divisão entre o eu interior e a realidade externa.

Seus trabalhos com frequência são interpretados como retratos de solidão e alienação, mas o escritor Brian O'Doherty, que era seu amigo, discorda.

"Estar só não quer dizer ser solitário, e solidão não é alienação", disse ele.

A exposição na galeria Tate Modern começa com uma imagem em preto e cinza de uma figura solitária em um teatro escurecido, pintada em 1902, e termina com "Sol em uma Sala Vazia", de 1963, tela vista por muitos como a obra-prima de Hopper.

Os quadros foram pendurados de maneira a lançar luz um sobre o outro, e as janelas da galeria que costumam permanecer fechadas foram abertas, tanto para aproveitar a luz natural quanto para que cada ambiente tenha uma janela real que ecoe a imagem que virou marca registrada de Hopper.

"Cada uma das telas aqui exposta pode ser vista como parte de um auto-retrato de Hopper", disse O'Doherty, que foi uma das apenas oito pessoas presentes ao enterro do artista.

"Hopper não era egocêntrico. Ele tinha um interesse intenso no ser. Ficava perplexo com seu próprio ser. Era uma das melhores pessoas que se poderia querer conhecer", disse O'Doherty.

Uma sala da exposição é dedicada a "Nighthawks" (Falcões Noturnos), de 1942, uma das telas de Hopper que é mais imediatamente reconhecível.

A pintura mostra três fregueses e um garçom vistos através da janela grande de um restaurante tipo "diner" numa esquina de rua vazia, tarde da noite.

Hopper, que morreu em 1967 aos 84 anos, fez sucesso relativamente tarde na vida, em 1924, quando conseguiu vender todos os 16 trabalhos expostos numa mostra individual na galeria Rehn, em Nova York.

Então ele abandonou o emprego que odiava, de ilustrador comercial, começou a pintar em tempo integral e a passar seus verões em Cape Cod, balneário que está presente em muitas de suas obras, assim como sua mulher, Jo Nivison.

O'Doherty conta que uma vez perguntou a Hopper, homem de poucas palavras, o que ele buscava em seu trabalho. "Ele respondeu: 'busco a mim mesmo"', contou o escritor e amigo.

A exposição, com mais de 80 trabalhos, ficará em cartaz até 5 de setembro, quando será transferida para o Museu Ludwig, em Colônia, até janeiro de 2005.

Tags:
Edições digital e impressa