Líder de fato do país, Aung San Suu Kyi é criticada por minimizar situação denunciada por vítimas e testemunhas no oeste do país, onde, segundo a ONU, está em curso um processo de limpeza étnica contra minoria muçulmana
Por Redação, com DW - de Genebra:
A líder de fato de Myanmar, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, quebrou o silêncio nesta terça-feira sobre a violência contra a minoria muçulmana rohingya no Estado de Rakhine (oeste), denunciada pela ONU como um processo de limpeza étnica.
No discurso, Suu Kyi, que ocupa um cargo similar ao de primeira-ministra, pintou uma realidade paralela à que denunciam ONGs, vítimas e testemunhas. E se limitou a dizer que seu governo não foge de suas responsabilidades e está ao lado daqueles que sofrem.
– Apesar de todos os esforços, não conseguimos parar o conflito. Não é a intenção do governo fugir de suas responsabilidades – disse Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, diante de diplomatas, autoridades e jornalistas. "Condenamos todas as violações dos direitos humanos. Comprometemos-nos com o Estado de direito e a ordem."
Na coletiva, retransmitida ao vivo pela televisão local, Suu Kyi se comprometeu a levar ajuda humanitária à região, além de permitir o retorno dos refugiados rohingyas, referindo-se a eles como "muçulmanos", que fugiram para Bangladesh.
A líder do país, apoiada pelos militares que governavam Myanmar e mantêm uma influência considerável, também afirmou que não há uma imagem clara dos eventos no estado de Rakhine. "Também estamos preocupados. Queremos descobrir quais são os problemas reais. Houve alegações e contra-alegações. Temos de ouvi-las todas", disse.
Direitos humanos
Ela também se comprometeu a resolver nos tribunais qualquer violação dos direitos humanos; que possa ter ocorrido em Rakhine durante a ofensiva militar em resposta a um ataque de radicais rohingyas, realizado em 25 de agosto.
A mensagem à nação foi transmitida dias depois que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres; classificou a crise dos rohingyas de limpeza étnica e pediu a suspensão das ações militares.
No discurso, Suu Kyi garantiu que as operações militares em Rakhine foram finalizadas em 5 de setembro. No entanto, o êxodo continuou após esta data com a fuga de aproximadamente 400 mil rohingyas; metade mulheres e crianças, para a vizinha Bangladesh; onde sofrem com falta de alimentos, água e assistência sanitária.