Procuradores constatam que clã Bolsonaro usa dinheiro vivo, há décadas

Arquivado em:
Publicado Quarta, 23 de Setembro de 2020 às 14:05, por: CdB

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), por exemplo, no alvorecer de seus 20 anos, em 2003, foi a um cartório no Centro do Rio e desembolsou R$ 150 mil em dinheiro vivo, para quitar integalmente a compra de um imóvel na Zona Norte.

Por Redação - do Rio de Janeiro
O uso de dinheiro vivo em grandes quantidades, para a cobertura de despesas das mais diversas, segundo constatam as autoridades policiais que investigam a família do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acontece há mais tempo do que se presumia. De imóveis a franquias de produtos até campanhas políticas inteiras, a movimentação financeira do mandatário neofascista não encontra precedentes.
bolsonaros.jpg
Jair Bolsonaro e seus três filhos: Eduardo (E), Flávio e Carlos estão envolvidos em mais uma investigação federal
O vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), por exemplo, no alvorecer de seus 20 anos, em 2003, foi a um cartório no Centro do Rio e desembolsou R$ 150 mil em dinheiro vivo, para quitar a compra de um imóvel. O montante corresponde hoje a R$ 366 mil, em valores corrigidos pelo IPCA, segundo constata o diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, que descobriu a transação. “Investigado por supostamente se apropriar dos salários de funcionários ‘fantasmas’ na Câmara Municipal, Carlos vai disputar o sexto mandato este ano. O apartamento pago em ‘moeda corrente do País, contada e achada certa’, como diz a escritura que oficializou o negócio, fica na Rua Itacuruçá, na Tijuca, e ainda pertence ao parlamentar. Na eleição de 2016, ele declarou que o imóvel valia R$ 205 mil”, relata o texto. Procurado, o vereador não respondeu à reportagem do Correio do Brasil, com o objetivo de checar a veracidade do relato.

Rastreamento

Mas dinheiro vivo mesmo, em quantias ainda mais significativas, foram usadas nas doações que irrigaram as campanhas eleitorais de 2008 a 2014, segundo levantamento do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ). Ao todo, mais de R$ 100 mil em notas pequenas e sem numeração sequencial foram distribuídos, no período. Algo em torno de R$ 160 mil, corrigidos pela inflação. De acordo com os investigadores, que vazaram esses dados à mídia conservadora, a arrecadação funcionava por meio de “autodoações em dinheiro vivo e de depósitos em espécie feitos por um membro da família em favor de outro. Em duas candidaturas, a utilização de cédulas foi responsável por cerca de 60% da arrecadação da campanha”. Os pagamentos em espécie no financiamento eleitoral não fogem à regra da família, de pagar contas pessoais e até a quitação de imóveis em espécie, conforme investigado no chamado caso das "rachadinhas" na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A prática não chega a ser um crime, embora possa dificultar o rastreamento da origem de valores obtidos de forma ilícita. Dinheiro vivo Atualmente, movimentação financeira acima de R$ 10 mil é, automaticamente, comunicada automaticamente ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Os depósitos em dinheiro vivo para o financiamento de campanha foram identificados em apuração de outro diário conservador paulistano, a Folha de S. Paulo (FSP), nos processos físicos das prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral. A reportagem da FSP “analisou os recursos recebidos desde 2000 pelas campanhas de Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos, Flávio (Republicanos-RJ), Carlos (Republicanos-RJ) e Eduardo (PSL-SP). Nas cinco campanhas em que a reportagem identificou pagamentos em espécie, o percentual de financiamento desse tipo em relação ao total de recursos arrecadados variou de 1% a 58%”, diz o texto. “Das 13 candidaturas analisadas, em 4 não houve depósitos em dinheiro vivo. Em outras 4, não foi possível confirmar pelas prestações se houve injeções em espécie. O elevado uso de dinheiro vivo nas campanhas destoa da prática de outras candidaturas bem-sucedidas naqueles anos. Reportagens e dados obtidos por órgãos de investigação mostraram que a família Bolsonaro, especialmente na figura do senador Flávio Bolsonaro, já movimentou mais de R$ 3 milhões em dinheiro vivo nos últimos 25 anos”, acrescenta. As prestações de contas à Justiça Eleitoral também mostraram que o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos também usaram dinheiro vivo para irrigar suas campanhas eleitorais de 2008 a 2014.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo