Queiroz pode ser preso a qualquer momento e entregar Bolsonaro

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Publicado Quinta, 19 de Dezembro de 2019 às 13:09, por: CdB

Nas mensagens recuperadas pela polícia, a ex-servidora se arrepende de ter recebido dinheiro ilícito, depositado em sua conta por Fabrício Queiroz, suspeito de cometer crimes em série por ordem do filho ’01’ de Bolsonaro.

 
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
  Ex-mulher de Adriano Nóbrega, um miliciano perigoso e foragido da Justiça, a ex-assessora de gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), hoje senador sem partido, Danielle Mendonça teve seu celular apreendido durante a operação que investigou a atuação de milicianos na Zona Oeste do Rio. Em face do conteúdo descoberto, Fabrício Queiroz, ex-assessor da família Bolsonaro, pode ser preso a qualquer momento.
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Filho '01' de Bolsonaro, Flávio é apontado como chefe do esquema de corrupção
Nas mensagens recuperadas pela polícia, a ex-servidora se arrepende de ter recebido dinheiro ilícito, depositado em sua conta por Fabrício Queiroz, suspeito de cometer crimes em série por ordem do ex-patrão, o filho ’01’ do presidente da República, Jair Bolsonaro. A partir deste contexto, a ex-mulher do miliciano acusado de pertencer ao grupo de extermínio Escritório do Crime e foragido desde o ano passado passa à condição de uma das principais linhas da investigação, em curso. Em uma das mensagens, Fabrício Queiroz envia para Danielle o contracheque dela, para que fizesse seu imposto de renda. É um indício, segundo o MP, de que ela sequer comparecia ao gabinete.

Problemas

Em outro texto, ela diz a uma amiga que há muito tempo vinha “incomodada com a origem desse dinheiro”. A conversa aconteceu em janeiro deste ano. No mesmo mês, Danielle conversou por mensagem com outra amiga, que confirmou a ilicitude dos pagamentos que recebia. Identificada apenas como “Paty”, a amiga da mulher de Adriano lembra a Danielle que foi o marido que havia conseguido uma nomeação como funcionária fantasma na Alerj e, por isso, ela poderia “ter se enrolado” com a Justiça. Ainda segundo o inquérito policial, vazado para a mídia conservadora, as mensagens de Danielle mostraram conversas entre a ex-assessora e Queiroz falando sobre a intenção de continuar com o esquema ilícito em 2019. No entanto, com a publicação da reportagem sobre as movimentações atípicas detectadas pelo Coaf, Danielle é exonerada da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), em janeiro. Na conversa, Queiroz adverte a ex-assessora: “Tá havendo problemas. Cuidado com que vai falar no celular”.

Amigos

O último contato de Queiroz com Danielle por WhatsApp ocorreu em 16 de janeiro. De acordo com o MP, apesar de algumas mensagens terem sido apagadas, é possível entender que Queiroz pergunta se a ex-assessora foi chamada a depor pelo Ministério Público e a orienta a faltar o depoimento. “Chamaram sim”, escreve Daniella, que responde a outra pergunta, adiante, apagada por Queiroz: “Um policial veio aqui na quinta-feira passada. Amanhã será o dia do depoimento”. Queiroz, então, manda mais algumas mensagens, também apagadas. A ex-assessora, por fim, sugere que conversou com advogados: “Eu já fui orientada. Ontem eu fui encontrar os amigos”.

‘Rachadinha’

No processo, em fase de investigações, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirma ter indícios de que o senador Flávio Bolsonaro e sua mulher, Fernanda, pagaram em dinheiro vivo de forma ilegal R$ 638,4 mil na compra de dois imóveis em Copacabana (Zona Sul da Cidade). Segundo os promotores, o uso de recursos em espécie tinha como objetivo lavar o dinheiro obtido por meio da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio na Alerj, que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os deputados. A informação sobre os imóveis consta do pedido de busca e apreensão de 111 páginas feito pelo MP-RJ à Justiça fluminense, autorizado e cumprido em operação realizada na véspera. A suspeita dos promotores decorre do fato de Glenn Dillard, responsável por vender os imóveis a Flávio e Fernanda, ter depositado ao mesmo tempo em sua conta os cheques entregues pelo casal e a quantia em dinheiro vivo. No dia 27 de novembro de 2012, Flávio e a mulher compraram dois imóveis em Copacabana. A escritura aponta o valor da operação como sendo de R$ 310 mil. O pagamento ocorreu em duas etapas. Primeiro, foi feito um sinal de R$ 100 mil pago em cheques no dia 6 de novembro. Dois cheques (que somam R$ 210 mil) foram entregues na data da assinatura da escritura. Além do volume movimentado, chamou a atenção dos investigadores a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia do Rio.

Voz de prisão

Diante da série de denúncias e evidências colhidas durante as operações policiais, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) cobrou, nesta quinta-feira, a prisão de Flávio Bolsonaro. Ele disse ainda que o esquema de corrupção constrange Sergio Moro. Pimenta refere-se, entre outros atos suspeitos do senador ’01’, a sociedade em uma franquia de uma rede de chocolates, alvo de busca e apreensão do MP-RJ. O advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, confirmou em nota a batida em um dos endereços do seu cliente. “Recebemos a informação sobre as novas diligências com surpresa, mas com total tranquilidade. Até o momento, a defesa não teve acesso a medida cautelar que autorizou as investigações e, apenas após ter acesso a esses documentos, será possível se manifestar”, disse. “Confirmo que a empresa do meu cliente foi invadida, mas garanto que não irão encontrar nada que o comprometa. O que sabemos até o momento, pela imprensa, é que a operação pode ter extrapolado os limites da cautelar, alcançando pessoas e objetos que não estão ligados ao caso”, afirmou.

Salários

Frente às informações reunidas, no inquérito, o MP-RJ cogita o pedido de prisão a Fabrício Queiroz e ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega. Ambos “tentaram embaraçar” a investigação sobre peculato e lavagem de dinheiro envolvendo o hoje senador. Segundo os promotores, ambos determinaram que Danielle Mendonça possa ter sido funcionária fantasma e faltado ao depoimento para o qual havia sido convocada pelo MP-RJ, tomando cuidado ao falar no celular, para não expor o esquema do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, acrescenta a reportagem. O MP informou, ainda, que os parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, que constaram como assessores de Flávio Bolsonaro "sacavam quase a integralidade dos salários recebidos na Alerj para repassar os valores em espécie a outros integrantes da organização criminosa". O total recebido pelos 9 integrantes da família que tiveram o sigilo quebrado é de R$ 4,8 milhões. Segundo a Procuradoria, esses parentes, que então moravam em Resende (RJ), sacaram 4 milhões de reais, o equivalente a 83% da remuneração paga.

‘Nada com isso’

Com base no noticiário desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro insinuou que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, estaria por trás da operação de busca e apreensão em endereços ligados ao filho ’01’ e ex-assessores. Ao ser questionado sobre se havia uma armação contra Flávio, Bolsonaro citou uma suposta gravação contra ele, que teria sido armada por Witzel. — Vocês sabem do caso do Witzel comigo. Vocês sabem do caso do Witzel. Foi amplamente divulgado, a inteligência levantou, já foi gravada a conversa de dois marginais citando meu nome, para dizer que eu sou miliciano. Armaram — afirmou Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada. Enquanto cumprimentava apoiadores, Bolsonaro foi questionado sobre a operação de quarta-feira, mas afirmou que só falaria sobre questões indígenas. Depois, ao se aproximar de jornalistas, disse que só não fala por si mesmo e que não tem "nada a ver" com problemas de outras pessoas. — Eu respondo por mim — concluiu.
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