Rio de Janeiro, 10 de Dezembro de 2025

Rosa Weber suspende efeitos de portaria do trabalho escravo

Ministra do STF, Rosa Weber sustou os efeitos da medida que, na prática, liberava o trabalho escravo no Brasil. Portaria serviu para enganar o público. Enquanto protestavam contra o decreto presidencial, Temer liberava dívidas dos ruralistas.

Terça, 24 de Outubro de 2017 às 13:49, por: CdB

Ministra do STF, Rosa Weber sustou os efeitos da medida que, na prática, liberava o trabalho escravo no Brasil. Portaria serviu para enganar o público. Enquanto protestavam contra o decreto presidencial, Temer liberava dívidas dos ruralistas e garantia votos no Plenário da Câmara, contra denúncia que poderia encerrar seu mandato.

 

Por Redação - de Brasília

 

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar que suspende os efeitos de uma portaria editada pelo Ministério do Trabalho que restringiu as regras para a fiscalização de trabalhadores em condições análogas à de um escravo.

rosa-weber.jpg
A ministra Rosa Weber, do STF, derrubou a portaria do trabalho escravo

A portaria serviu para enganar o público. Enquanto protestavam contra o decreto presidencial, Temer liberava dívidas dos ruralistas e garantia votos no Plenário da Câmara, contra denúncia que poderia encerrar seu mandato. Em pleno fim de semana, um decreto do governo federal garantiu o desconto para as multas por crimes ambientais.

A quatro dias da votação da segunda denúncia contra Temer, a medida foi um agrado definitivo para a bancada ruralista, que tem mais de 200 deputados. Eles já esperavam que a portaria sobre o trabalho escravo seria barrada no STF.

Temer foi a Mato Grosso do Sul com o compromisso de assinar os decretos. Concedeu desconto de até 60% sobre multas do Ibama. E os 40% restantes da dívida podem ser pagos com ações de reflorestamento ou recuperação de áreas degradadas, indicadas pelo governo.

Impunidade

Rosa Weber atendeu a um pedido da Rede Sustentabilidade, que denunciou o “inconfessável propósito” da portaria de inviabilizar uma das mais importantes políticas públicas, a de combate ao trabalho escravo. 

Numa dura peça, o partido havia apontado em sua petição que a portaria foi uma das “mais abjetas barganhas” da história do país. “Trocou-se a impunidade na escravidão pela impunidade na corrupção”, criticou.

A Rede cita o fato de que a bancada ruralista no Congresso --setor sempre crítico à legislação sobre o tema — é numerosa e coesa, tornando-se essencial para o presidente Michel Temer, especialmente no momento em que tramita na Câmara dos Deputados uma segunda denúncia criminal contra ele.

“Assim, certamente não foi por mera coincidência a edição, nesse exato momento, da malsinada Portaria do Ministério do Trabalho nº 1.129/2017, que, se cumprida, praticamente destruirá a política pública brasileira de combate ao trabalho escravo”, afirmou o partido.

'Concorrência desleal'

Na decisão, com data de segunda-feira, Rosa Weber argumentou que a norma restringe “indevidamente” o conceito de redução à condição análoga à de escravo, o que contraria os princípios da Constituição. A ministra também contestou a exigência de ato prévio do ministro do Trabalho para divulgar a chamada “lista suja” do trabalho escravo.

“Vale ressaltar que, a persistir a produção de efeitos do ato normativo atacado, o Estado brasileiro não apenas se expõe à responsabilização jurídica no plano internacional, como pode vir a ser prejudicado nas suas relações econômicas internacionais, inclusive no âmbito do Mercosul, por traduzir, a utilização de mão de obra escrava, forma de concorrência desleal”, afirmou a ministra.

Rosa Weber concedeu liminar para suspender os efeitos da norma até o julgamento do mérito da ação.

Tags:
Edições digital e impressa